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Recantos e Petiscos... Doces recantos

Paulo Mateus
Opinião \ sexta-feira, abril 23, 2021
© Direitos reservados
Começa hoje a minha colaboração neste novo projeto editorial de Gui­marães.

Desde já agra­deço a quem confiou na minha experiência nesta matéria vai para mais de 20 anos: já são bons aninhos a palmilhar, direi eu, este mundo da comida tradicio­nal e dos vinhos.

Ainda a gastronomia e o vinho não eram uma moda nacional, já defendia uma nova abordagem dos produtores, uma aposta na inovação da rotulagem, do packa­ging, das lojas e uma melhor co­municação junto do consumidor. Com o florescer de projetos edi­toriais, da internet, o encurtar de distâncias, o acesso à informação e maior escolha de destinos, tor­nou o consumidor mais atento, mais exigente e com uma maior curiosidade sobre o seu país, a sua região, a sua cidade; um con­sumidor que, com a globalização, começou a olhar à sua volta com outros olhos, escreveu um dia Mark Twain,“ viajar é fatal para o preconceito, a intolerância e a estreiteza de espírito. (...) visões largas, sadias e benevolentes de homens e coisas não se podem adquirir vegetando toda a vida num cantinho da Terra”.

Neste contexto, a gastronomia e os vinhos, passaram a ser olhados, não como simples meios para sa­tisfazer as necessidades básicas, mas como elementos de identi­dade cultural e de convivência social. Não há como uma boa re­feição ou um copo de vinho entre amigos para libertar as palavras, as ideias, os sonhos, partilhar me­mórias inesquecíveis.

O hábito do consumo do vinho mudou radicalmente, hoje é ha­bitual ver as pessoas em esplana­das, ao final da tarde, a beber um copo de vinho, algo impossível de encontrar há uns anos atrás, não só porque o vinho não estava disponível a não ser em tascas, mas também porque pedir um copo de vinho trazia associado um forte estigma social. Dá gosto hoje ver casais ou um grupo de amigos (ou mesmo alguém sim­plesmente só), a beber um copo de vinho e conversar tranquila­mente depois de um longo dia de trabalho ou num bar, ao fim de semana. Os hábitos alimenta­res mudaram e o ritmo da vida moderna tornou cada vez mais preciosos os momentos de pau­sa e de convivência. Já em 1898, Raul Brandão descrevia ao ami­go Columbano Bordalo Pinheiro a cidade de Guimarães e o salu­tar hábito de socializar e beber vinho: “Guimarães é uma cidade perfeitamente Idade Média, com palácios, igrejas e casas minho­tas curiosíssimas. (…) Lindas ra­parigas e vinho verde magnifico a cinco mil reis a pipa; acrescen­tando isto fica você percebendo que esta terra basta para a mi­nha felicidade. Estou portanto contente. Não vejo à minha volta senão gente feliz, corada e pal­reira – e a alegria é, como sabe, comunicativa.” Se Raul Brandão voltasse aos nossos dias, ficaria deliciado, ao ver tanta gente feliz, no palreiro, a beber o seu copo de vinho e a saborear petiscos num momento único de pura descon­tração e prazer.

São restaurantes, quintas e lojas tradicionais, que mensalmente apresentarei neste espaço, pro­curando mostrar o que de bom oferece este rico concelho da re­gião do verde minho.

"(...) Estou portanto contente. Não vejo à minha volta senão gente feliz, corada e palreira – e a alegria é, como sabe, comunicativa.”

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