Recantos e Petiscos... Doces recantos
Desde já agradeço a quem confiou na minha experiência nesta matéria vai para mais de 20 anos: já são bons aninhos a palmilhar, direi eu, este mundo da comida tradicional e dos vinhos.
Ainda a gastronomia e o vinho não eram uma moda nacional, já defendia uma nova abordagem dos produtores, uma aposta na inovação da rotulagem, do packaging, das lojas e uma melhor comunicação junto do consumidor. Com o florescer de projetos editoriais, da internet, o encurtar de distâncias, o acesso à informação e maior escolha de destinos, tornou o consumidor mais atento, mais exigente e com uma maior curiosidade sobre o seu país, a sua região, a sua cidade; um consumidor que, com a globalização, começou a olhar à sua volta com outros olhos, escreveu um dia Mark Twain,“ viajar é fatal para o preconceito, a intolerância e a estreiteza de espírito. (...) visões largas, sadias e benevolentes de homens e coisas não se podem adquirir vegetando toda a vida num cantinho da Terra”.
Neste contexto, a gastronomia e os vinhos, passaram a ser olhados, não como simples meios para satisfazer as necessidades básicas, mas como elementos de identidade cultural e de convivência social. Não há como uma boa refeição ou um copo de vinho entre amigos para libertar as palavras, as ideias, os sonhos, partilhar memórias inesquecíveis.
O hábito do consumo do vinho mudou radicalmente, hoje é habitual ver as pessoas em esplanadas, ao final da tarde, a beber um copo de vinho, algo impossível de encontrar há uns anos atrás, não só porque o vinho não estava disponível a não ser em tascas, mas também porque pedir um copo de vinho trazia associado um forte estigma social. Dá gosto hoje ver casais ou um grupo de amigos (ou mesmo alguém simplesmente só), a beber um copo de vinho e conversar tranquilamente depois de um longo dia de trabalho ou num bar, ao fim de semana. Os hábitos alimentares mudaram e o ritmo da vida moderna tornou cada vez mais preciosos os momentos de pausa e de convivência. Já em 1898, Raul Brandão descrevia ao amigo Columbano Bordalo Pinheiro a cidade de Guimarães e o salutar hábito de socializar e beber vinho: “Guimarães é uma cidade perfeitamente Idade Média, com palácios, igrejas e casas minhotas curiosíssimas. (…) Lindas raparigas e vinho verde magnifico a cinco mil reis a pipa; acrescentando isto fica você percebendo que esta terra basta para a minha felicidade. Estou portanto contente. Não vejo à minha volta senão gente feliz, corada e palreira – e a alegria é, como sabe, comunicativa.” Se Raul Brandão voltasse aos nossos dias, ficaria deliciado, ao ver tanta gente feliz, no palreiro, a beber o seu copo de vinho e a saborear petiscos num momento único de pura descontração e prazer.
São restaurantes, quintas e lojas tradicionais, que mensalmente apresentarei neste espaço, procurando mostrar o que de bom oferece este rico concelho da região do verde minho.
"(...) Estou portanto contente. Não vejo à minha volta senão gente feliz, corada e palreira – e a alegria é, como sabe, comunicativa.”