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Uma Sala com vista para a cidade...

Paulo Mateus
Opinião \ sexta-feira, junho 25, 2021
© Direitos reservados
A Sala 141 é um espaço moderno, com uma decoração despretensiosa, informal, com um toque vagamente kitsch que faz dele uma sala com um ambiente pouco convencional, mas muito acolhedora e familiar.

No centro de Guimarães há uma sala aberta que dá gosto visitar. É uma das minhas salas preferidas quando se trata de degustar umas tapas, pimentos padrón (que nada ficam a dever aos que se comem na vizinha Galiza), ovos “revueltos” ou mesmo beber um irrepreensível Negroni. Falo da Sala 141 que, com o saber da Marisa e do André, transformaram desde abril de 2015 o que era antigamente uma “tasca” regional, uma casa com história e histórias vindas do tempo, num espaço moderno, com uma decoração despretensiosa, informal, com um toque vagamente kitsch que faz dele uma sala com um ambiente pouco convencional, mas muito acolhedora e familiar. Uma Sala onde apetece estar.

A Sala 141 é um local que estimula o convívio, a partilha e as boas conversas, quer pelo conforto visual, quer pelo conforto auditivo, pois a excelente seleção musical dá asas às palavras. Seja ao balcão, seja na famosa mesa comprida, as palavras fluem de forma apaixonada ou entusiasmada, mesmo que a pandemia tenha roubado alguma da magia da sala, impondo regras que todos temos de respeitar. A longa e familiar mesa de madeira foi afastada para dar lugar a mesas individuais, mas não “levou” a vontade de conviver e degustar as iguarias que fazem deste espaço um restaurante tão diferente quanto surpreendente.

Os donos da Sala 141 sonharam um bar que pudesse servir algumas tapas, mas depressa este espaço, pela qualidade e irreverência da sua carta gastronómica, passou a restaurante. Em boa hora se deu essa passagem.

Gosto de ir à Sala 141 ao final do dia, depois de um dia de trabalho, não apenas para jantar, mas ainda mais frequentemente para me sentar numa das mesas com vista para a rua, pedir um copo de vinho ou um Negroni (que nesta sala são absolutamente divinais), e observar as pessoas que passam. Como fica muito perto do centro histórico, por estas paragens a cidade fervilha.

Em certas ocasiões, quando o meu espírito “voyeur” o pede e me apetece acompanhar a bebida com algo mais suculento, cometo o pecado da gula e peço um Disco de Chèvre gratinado, com pimenta rosa e chutney de tomate, uns “buenos” revueltos de gambas, cogumelos frescos e rúcula, o ex-Libris da casa, a Sandwich de Porco cozinhado a baixa temperatura em bolo de caco, ao estilo de um bom Pulled Pork Sandwich cubano. Esta sandwich é tão suculenta e saborosa que é difícil ficar só por uma. Pode demorar tempo a cozinhar, mas o tempo de espera vale bem a pena, pois a carne desfaz-se na boca. E quem não gosta de sentir uma carne macia e tenra que eleva os nossos parâmetros sensoriais?

Não posso estar mais de acordo com Montaigne: …“Se o vosso médico não acha bom que durmais, que useis vinho ou tal carne, não vos preocupeis: encontrar-vos-ei outro que não será da opinião dele.”

Estou muito curioso para voltar à Sala e experimentar a novidade da carta: uma Burrata fresca com Coulis de manga apimentada, presunto e pesto de tomate seco. O médico de Montaigne por certo não se oporá a tão natural petisco.

Como foi originalmente pensada como bar, a Sala 141 tem ainda umas Margaritas ou Cubanitos (mojitos) para quem gosta de deixar envolver o seu palato numa sensação tropical.  Por mim, não resisto a voltar para provar os tentadores vinhos tintos NAT, com assinatura de Dirk Nieeport.

Parabéns, Marisa e André, pela vossa Sala, por criarem em Guimarães um conceito diferente e irreverente, mas também por fazerem desta sala da cidade um espaço acolhedor, pleno de sabores e de aromas do mundo.

 

Nota: artigo de opinião originalmente publicado na edição #03 do Jornal de Guimarães em Revista, a 18 de junho de 2021

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