Podemos todos contribuir – também como consumidores
A biodiversidade é uma preocupação global atual, seriamente ameaçada, dado que variedades e raças locais de animais domésticos, plantas e animais estão a desaparecer. Esta perda de diversidade, incluindo a diversidade genética, representa um sério risco para a segurança alimentar global ao minar a resiliência de muitos sistemas a ameaças como pragas, doenças e alterações climáticas.
A preservação de raças autóctones é altamente importante em diversos sistemas agroecológicos, particularmente em sistemas mais pobres nutricionalmente. Das 7.092 raças locais, 2.021 estão consideradas como em risco de extinção; para 4.351 dessas raças, o seu estatuto de risco permanece desconhecido, devido a dados ausentes ou desatualizados. Na Europa e no Cáucaso, região onde nos encontramos, 51% das raças locais e regionais de animais de criação e domesticadas estão em risco de extinção.
O Plano de Ação Global para Recursos Genéticos Animais, implementado a nível mundial pela FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura - visa combater a erosão da diversidade genética animal, de forma a utilizar os recursos de forma sustentável. Em 2013, Portugal adotou um plano nacional de salvaguarda da diversidade genética, que inclui implementar e desenvolver programas de melhoramento para proteger as raças locais e criar um reservatório de variabilidade que merece ser explorado e devidamente gerido.
Esta conservação dos recursos animais representa uma oportunidade para a promoção dos recursos genéticos locais com benefícios para as áreas marginais que possuem características próprias de índole económica, cultural, potencial social, ambiental e de cariz científico, contribuindo para o reforço territorial.
A perceção do consumidor relativamente à sustentabilidade da produção e ao bem-estar animal tem aumentado e a valorização das tradições e dos produtos locais renovou o seu interesse em produtos de nicho. Esta preocupação substancial pelos consumidores revela-se na disposição de contribuir para um programa de conservação, impulsionado pela sensação da responsabilidade do contribuinte na conservação das raças locais, assim como dos seus produtos associados. Simultaneamente, os produtores estão a descobrir o potencial das raças locais devido à sua rusticidade, resistência e adaptabilidade às diferentes condições ambientais.
Ora, tudo isto pode parecer longe de nós e que pouco poderemos contribuir. Nada mais incorreto. Quando estivermos no supermercado, esqueçamos a picanha argentina (que tem ainda mais pegada de carbono) e optemos pela barrosã ou cachena. Mantenhamos as preocupações ambientais e esqueçamos os borregos da Austrália ou Nova Zelândia e valorizemos as nossas ovelhas bordaleiras ou merinas. E no mercado, os ovos ou carne das nossas raças avícolas (a pedrês portuguesa – de que tanto fala Eça e as suas cabidelas; a amarela, a preta lusitânica ou a branca), sabendo que valorizamos os produtores locais e reforçamos a economia dos pequenos produtores.
Difícil não é, muitos outros países o fazem, e, na verdade, bem mais interessante é contribuir para um país vivo, coeso e que valorize positivamente os seus produtos e tradições.