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Biodiversidade - todos fazemos parte

Nuno de Vieira e Brito
Opinião \ quarta-feira, maio 19, 2021
© Direitos reservados
Cada opção implica uma atitude e esta pode ser a escolha pela diversidade, pelos recursos endógenos, pela produção local, por sistemas de produção mais sustentáveis.

Não somos certamente indiferentes à relevância da biodiversidade e da forma como as plantas, animais e microrganismos que os compreendem e circundam afetam os sistemas agrícolas e alimentares. A genética, a espécie e o ecossistema são o suporte na produção de alimentos e de diversos serviços ambientais e a biodiversidade é determinante na resiliência a situações de stress (hídrico, climático), na adaptação dos sistemas produtivos aos desafios emergentes e nos esforços para aumentar a produção de forma sustentável.

Mas, reduzindo estas noções gerais que a muitos podem parecer longínquas, melhor compreendemos o “estado da arte” da biodiversidade quando referimos que o solo agrícola alberga um quarto da biodiversidade total e cerca de 20% das terras estão degradadas ou que cerca de 200 plantas foram usadas para a produção de alimentos (em 2014) e apenas nove são responsáveis por 66% de todas as culturas. Apesar de termos cerca de 1000 raças bovinas em todo o mundo, com valores económicos e produtivos únicos, entre 2000 e 2018, 150 raças de animais de produção foram extintas e das 580 espécies piscícolas provenientes da aquicultura para a alimentação humana, apenas dez totalizam 50% do consumo total.

Inquestionável o papel da floresta, responsável por cerca de 25% do total da biodiversidade, da polinização, pois três em quatro das culturas em todo o globo que produzem sementes ou frutos necessitam destes insetos polinizadores ou, ainda, das 1000 espécies de invertebrados podem ser encontradas em 1m2 de solo florestal. Agora sim, fazemos parte e influenciamos com os nossos comportamentos, atitudes e opções.

Fazer parte implica a consciencialização dos nossos atos como cidadãos e escolhas como consumidores. Cada opção implica uma atitude e esta pode ser a escolha pela diversidade, pelos recursos endógenos, pela produção local, por sistemas de produção mais sustentáveis. Ao escolhermos as variedades e raças locais, estimulamos os produtores locais no suporte da biodiversidade, reduzimos o abandono de terras agrícolas, reforçamos os ecossistemas locais e diminuímos a pegada de carbono (pela importação de alimentos).

Mas, ainda, ao sermos exigentes em políticas públicas que fomentem a agricultura e a floresta como forma de reserva ambiental, para além de produtiva ou de ordenamento de território, fazemos parte como guardiões da biodiversidade, a que civicamente todos devemos aderir.

Claro que não temos de nos transformar de urbanos em rurais (por mais que esta distinção se tenha esbatido). Importante é também a criação e proteção dos parques urbanos, onde, para além da fauna e flora, se encontra uma natureza invisível, um autêntico mundo de vida selvagem, de formas de vida microscópicas. A importância da sua exposição a diversos tipos de vida microbiana, principalmente na infância, permite que o sistema imunitário construa um forte exército de células (anticorpos) que protegem dos agentes patogénicos, a que acresce o papel de filtração das árvores de comunidades microbianas, reduzindo o risco de exposição a agentes patogénicos nocivos.

A biodiversidade é, pois, algo concreto, influenciada pelas nossas atitudes e escolhas. Proponho que façam uma reflexão e analisem como podem reforçar este objetivo mundial, no quotidiano, no suporte aos sistemas agrícolas e alimentares locais, nas políticas públicas de florestação e valorização dos solos, na intervenção cívica no ambiente, enfim, na construção de uma sociedade que vá ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas. E por que não continuar num pragmático diagnóstico de Guimarães?

 

Nota: Artigo originalmente publicado na edição #02 do Jornal de Guimarães em Revista, a 14 de maio de 2021

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