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Em busca do Prego…

Paulo Mateus
Opinião \ domingo, outubro 30, 2022
© Direitos reservados
E de repente, embalado por um samba carioca, eis que dou por mim a elaborar um roteiro mental de locais em Guimarães onde recordo ter comido um bom prego no pão com os requisitos dignos desta sandes.

Chove lá fora com intensidade, nunca tinha visto chover assim no Rio de Janeiro, onde voltei em trabalho, visito para petiscar o afamado Jobi, um boteco a receber clientes desde 1956, em pleno coração do Leblon, e paragem obrigatória quando visito a "cidade maravilhosa".

Adoro este lugar cheio de vida, ponto de referência da boémia carioca, sempre cheio de gente bonita e divertida; adoro sentar-me numa mesa da esplanada, beber um chope bem geladinho e degustar uns petiscos que nos fazem água na boca. Com uma cozinha misto de uma culinária luso-brasileira, este local é famoso pelos seus bolinhos de bacalhau (não estão nada mal, recomendam-se); quem nunca foi ao Jobi, não conhece bem o Rio, dizem os cariocas, e com alguma razão.

Desta vez e olhando as pessoas que passam na rua a correr, admiradas com a quantidade de água que caia do céu, resolvi seguir a sugestão do simpático empregado que me atendeu e pedir um filé com queijo, uma sanduíche em tudo parecida com o nosso prego no pão.

Confesso que a dita sanduíche estava boa, a carne era tenra e saborosa, com um queijo de minas meio derretido, a fazer a fronteira entre a carne e o pão, tudo como manda a receita, somente um senão: não era um verdadeiro prego no pão, como nós portugueses gostamos de comer. Esse só se come em terras lusas.

A nossa sanduíche mais típica foi criada por Manuel Dias Prego na sua taberna, a Taberna do Prego, na Praia das Maçãs no final do século XIX. O vocábulo entrou na gastronomia portuguesa no princípio do século XX, em memória ao seu criador, começando o Prego no pão a fazer parte das ementas das tabernas e cervejarias de todo o país.

E de repente, embalado por um samba carioca que se ouvia de fundo, eis que dou por mim a elaborar um roteiro mental de locais em Guimarães, onde recordo ter comido um bom prego no pão com os requisitos dignos desta sandes: carne tenra, bem condimentada, com ou sem queijo, e um bom pão.

O primeiro local onde o meu roteiro parou foi a Vimawines, onde o prego com queijo é uma delícia e sempre com a carne tenra. Segui pela a tasquinha do Tio Júlio, um dos melhores Pregos no pão que se come na cidade berço, sempre bem confecionado e saboroso. Passei ainda pela Pregaria de Guimarães, onde o Prego não engana, nem desilude, faz jus ao nome da casa; subi a rua e parei na Cervejaria Martins, um bom e honesto Prego no pão; comer ao balcão sabe ainda melhor. Acabei num espaço novo o Tás c´Pio, onde se come um prego no pão sempre tenro, num ambiente de tasca na Penha, com um pôr do sol de cortar a respiração.

Depois desta viagem mental por terras vimaranenses, regressei ao Jobi, continuei a saborear o meu filé; pedi mais um chope, olhei em volta e sorri, pois, por dentro, vou “meter o dente” num verdadeiro prego no pão temperado e tenrinho.

Como escreveu Moliére: "Bem comido, a minha alma de nada quer saber. E nem os desgostos a conseguem comover".

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