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Olhinhos com vista para a cidade...

Paulo Mateus
Opinião \ sexta-feira, outubro 29, 2021
© Direitos reservados
O cabrito assado não parece ser o forte da gastronomia minhota, mas, em Guimarães, há duas casas que o fazem de uma forma “quase” tipicamente beirã (com o que o advérbio implica de reserva afetiva).

Li algures, não me lembro do autor, que “as memórias são as adegas da mente”. Vivendo em Guimarães há muitos anos, mas tendo raízes beirãs, as memórias gastronómicas guardadas na adega da minha mente são mais feitas de odores do que de sabores. Recordo em especial o cheiro do queijo da serra a curar na queijeira da cozinha de casa de infância, o cheiro intenso da vinha d'alhos ou da chanfana na Páscoa e, de um modo muito especial, o aroma quente do cabrito assado a sair do forno a lenha nos dias de festa na casa da minha avó, no coração da serra da Estrela, ou mais tarde na casa dos meus pais. Como beirão, tenho no cabrito assado um dos meus pratos de excelência, pelo que talvez seja muito mais exigente e muito mais crítico em relação a este prato do que em relação a qualquer outro, desde logo porque ao saboreá-lo é impossível apagar as memórias de infância e juventude que, como se sabe, são uma escrita gravada na pele.

O cabrito assado é por toda a Beira Interior, em especial na região da Guarda, um prato com grande tradição, em especial no Natal.

Confesso que num Minho onde imperam os rojões e a vitela assada é difícil encontrar casas que confecionem um verdadeiro cabrito assado e não o que eu designo por um cabrito cozido alourado, tipo assado, quase sempre reduzido no prato a um monte de ossos sem substância. Se é certo que cada região tem a sua receita para confecionar este prato, não será menos certo que o cabrito não parece ser o forte da gastronomia minhota.

Todavia, tenho de reconhecer que em Guimarães há duas casas que são a exceção em relação à regra que acabo de enunciar. Duas casas que fazem o cabrito assado de uma forma “quase” tipicamente beirã, claro (com o que o advérbio implica aqui de reserva afetiva). Falarei apenas de uma dessas casas, ficando a outra no segredo dos deuses até uma próxima oportunidade.

A casa a que me refiro é a Adega Regional 7 Olhinhos, localizada em Guardizela, que em tempos remotos foi uma das tascas mais afamadas da região e um lugar carregado de história e de histórias. Ali, o vinho a copo era rei e senhor, sempre acompanhado de umas portuguesíssimas sardinhas fritas e de uma boa conversa. Hoje, pelas mãos de Nuno Cunha e da sua mulher, traz até nós o que de melhor se faz na cozinha tradicional portuguesa, num ambiente familiar e descontraído, onde a modernidade dialoga com o passado.

Embora dignas de nota, não vou falar de outras deliciosas iguarias que constam de uma carta regional completa. Seria injusto para o cabrito assado no forno com batatinhas servido nesta adega, feito como mandam as boas tradições beirãs: bem assado mas suculento, tenro e de sabor suave, ligeiramente apimentado, sem estar afogado em vinho ou cebolas cozidas. Dizer que este cabrito é “quase” tão bom como o das adegas da minha memória é dizer o que vale a pena ser dito. O melhor elogio.

Acrescentarei apenas que a Adega Regional 7 Olhinhos mantém debaixo de olho bons vinhos, dignos de
acompanhar com requinte um prato tão exigente como este. Porque, como
diz a frase de Fernando Pessoa que recebe o visitante à entrada “ Boa é a vida, mas melhor é o vinho”. Boa é a vida, mas melhor será ainda se for acompanhada de um bom cabrito e de um vinho condigno.

A Adega Regional 7 Olhinhos é um restaurante a colocar no nosso mapa gastronómico.

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