Mais um ano perdido
Em primeiro lugar, deixava aqui os meus desejos de um ótimo 2023, pleno de realizações pessoais e profissionais, e sobretudo com muito saúde, a todos e em especial aos leitores do Jornal de Guimarães.
Deixei propositadamente de lado as realizações de cariz financeiro, porque nesse campo específico, com toda a sinceridade, não antevejo grandes vitórias.
Não se vê um fim no horizonte para a guerra na Ucrânia, um dos grandes motivos (principalmente pela pressão ao nível do preço da energia e dos bens alimentares), para a inflação continuar a não dar tréguas.
E não estando a inflação controlada, as taxas de juros irão continuar a subir. Todas as declarações dos responsáveis pela política monetária da zona euro vão nesse sentido. E com elas a prestação do crédito à habitação de milhões de Portugueses. Ainda assim, não se vislumbra, na minha opinião, a curto prazo, uma crise de grandes dimensões no nosso país.
As previsões de praticamente todas as instituições nacionais e internacionais apontam para um crescimento (ainda que “poucochinho”) da nossa economia (o Banco de Portugal prevê um crescimento para a economia portuguesa de 1,5%, tendo quer a Comissão Europeia quer o FMI previsões de crescimentos mais modestas, de 0,7%), e vivemos uma situação de praticamente pleno emprego, o que não faz crer que a maioria dos agregados familiares reduza drasticamente os seus níveis de consumo ou deixe de cumprir com as suas responsabilidades durante o ano de 2023. Os apoios pontuais do governo, as poupanças acumuladas durante a pandemia e as injeções do PRR dão ainda garantias adicionais de que, em 2023, não irão ocorrer diminuições relevantes nos níveis de consumo e de bem-estar das famílias.
E mais do que tudo, os portugueses habituaram-se a esta mediocridade. Ao “poucochinho” que António Costa tanto criticou em António José Seguro. Esta é sem dúvida a marca que o Primeiro-Ministro deixa nestes sete anos em que tem governado o país: conseguiu baixar de tal forma as expetativas dos Portugueses, que se calhar crescermos 0,7% até nem é mau. Nem que sejamos ultrapassados por todas as economias do leste europeu e que, provavelmente no fim desta legislatura, sejamos o país mais pobre da zona Euro. Porque ainda assim, podia ser pior. E, ainda “temos praia e sol, jogadores de futebol, temos Fátima e fado”, neste “jardim à beira-mar plantado”.
Já as perspetivas para o concelho de Guimarães parecem ser bem mais negras: verificou-se no mês de novembro um número anormal de encerramento de empresas. Encerraram 121 apenas num mês contra um total acumulado de 119 encerramentos nos primeiros dez meses do ano. O setor mais afetado pelos encerramentos é o sector do comércio, ao que não serão alheias as sucessivas aberturas de novas grandes superfícies comerciais.
O que, aliado ao facto do nosso tecido económico ser muito dependente da indústria têxtil, que para além de ser dos setores onde a fatura energética tem mais peso na estrutura de custos, é dos que tem a sua competitividade mais suportada em baixos salários (o aumento do salário mínimo nacional de 8% pode precipitar a deslocalização já em curso da produção para países com custo de mão-de-obra mais competitiva), também não faz prever que o ano de 2023 nos traga grandes conquistas.