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Caminho para a Servidão

Eduardo Fontão
Opinião \ quarta-feira, maio 17, 2023
© Direitos reservados
O crescimento está suportado no crescimento das exportações, pois o consumo das famílias, das pessoas, evoluiu de forma negativa. Parece que o país está melhor, mas os portugueses têm menos dinheiro.

Fomos todos surpreendidos (positivamente), pelos números relativos à economia portuguesa, apresentados no final do mês de abril, na estimativa rápida das contas nacionais publicada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). De acordo com esta estimativa, o crescimento em cadeia do Produto Interno Bruto (PIB), mais precisamente, no 1º trimestre de 2023 face ao último trimestre de 2022, ascendeu a 1,6%, quando todas as estimativas, incluindo a do Ministério das Finanças, apontavam para um crescimento abaixo de 1%. Já o crescimento homólogo (anual comparado com o 1º trimestre de 2022) do PIB, foi de 2,5%.

Os números apresentados são bastante positivos, por um lado, porque nos trimestres mais recentes, o crescimento em cadeia do PIB nunca andou acima de 0,3%, o que parece demonstrar uma aceleração significativa do crescimento da economia portuguesa, e por outro, porque tudo leva a concluir que os agentes económicos, tal como aconteceu noutros países como a Bélgica ou a Itália, se estão a adaptar a esta “não governação” do país. Ou não fossemos nós portugueses! E a economia do país cresceu, não por mérito do governo como alguns parecem fazer crer, mas apesar deste, que, como todos temos tido oportunidade de acompanhar diariamente, passa mais tempo a tentar resolver trapalhadas internas dos seus membros e pouquíssimo tempo efetivamente a governar.

Embora nesta estimativa rápida o INE não refira como cada uma das grandezas que compõem o cálculo do PIB contribuiu para o crescimento verificado, refere que existiu um “contributo positivo expressivo da procura externa líquida, em larga medida resultante do dinamismo das exportações, enquanto o contributo da procura interna passou a negativa”.

Traduzindo para português, o crescimento está suportado no crescimento das exportações, pois o consumo das famílias, das pessoas, evoluiu de forma negativa. Portanto, parece que o país está melhor, mas os Portugueses têm menos dinheiro no bolso para gastar.

Ainda que o INE não tenha divulgado quais os sectores que mais contribuíram para este crescimento acentuado das exportações, arrisco dizer que o contributo do turismo, do qual a nossa economia já depende (na minha opinião) excessivamente, terá sido preponderante. O que não me permite ver este crescimento da economia de forma tão otimista (em 2019, ano pré-pandemia, o peso do turismo no PIB Português, já era de 15,4%, um dos mais altos da OCDE).

O turismo não é habitualmente uma atividade económica de alto valor acrescentado ou que gere emprego especialmente muito bem remunerado; pelo menos, não vejo os algarvios, que vivem há décadas do turismo, com níveis de rendimento parecidos com o dos suíços. Para além de que, atingindo níveis exagerados, traz consigo inúmeros constrangimentos ao quotidiano de quem vive e trabalha nas cidades mais “turísticas”.

Obviamente que é melhor crescermos suportados pelo crescimento do turismo do que não crescermos, disso não há dúvidas.

Mas a não ser que o objetivo seja que os nossos jovens atinjam o topo da carreira a servir cafés aos nómadas digitais e ao pessoal da Web Summit, não me parece que seja este o caminho para que haja uma mudança de trajetória e o nível de vida dos portugueses volte a convergir para a média dos seus parceiros da União Europeia.

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