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Valência - Cidade Verde Europeia 2024

Nuno de Vieira e Brito
Opinião \ sexta-feira, novembro 08, 2024
© Direitos reservados
Esta distinção, que pode ser também importante para Guimarães, é pensar como devemos intervir verdadeiramente em políticas publicas que afetem a comunidade. E nisto Guimarães muito tem de refletir.

Estamos hoje todos profundamente solidários com a tragédia de Valência. As chuvas torrenciais associadas à Depressão Isolada em Níveis Altos, conhecida por DANA, atingiram várias localidades de Valência, como Chiva, Buñol e Turís, onde em oito horas caiu igual quantidade de água como nos 21 meses anteriores, ou Tavernes, em que se registou a precipitação mais elevada em 24 horas desde 11 de setembro de 1966. Segundo a Agência Estatal de Meteorologia de Espanha choveu em Valência, em apenas oito horas, o que é habitual chover num ano inteiro.

Esta tempestade formou um enorme lago a sul da cidade de Valência, ampliando significativamente o tamanho da conhecida L’Albufera, uma lagoa inserida num parque natural que é uma das grandes atrações turísticas da região e profundamente promovido, num conjunto de atividades, durante este ano da Capital Verde.

Já em 1957, foram devastadoras as consequências de uma enchente, estimando-se que houve entre 300 e 400 mortes e mais de 1.700 pessoas desalojados. Mas foi uma tragédia que determinou o futuro do projeto de Valencia e reduziu o impacto nefasto desta DANA.  Ora, como resultado da enchente, o governo de Franco e as autoridades locais começaram a propor soluções, adotando o chamado Plano Sul, que desviou o leito do rio para o sul de Valência, dotando-o de uma capacidade de 5.000 metros cúbicos de água, em comparação com os 3.700 metros cúbicos produzidos pela enchente de 57. Foi determinante para que, agora, a tragedia atual não fosse, ainda, muito superior, pois conseguiu conter o leito do rio Turia.

A Capital Verde Europeia Valência 2024 pretende desenvolver, segundo o seu Diretor Geral António Celda, um “projeto que integre a sustentabilidade em todos os aspetos da vida urbana, posicionando-a como uma referência europeia nesta área. Os objetivos incluem promover a mobilidade sustentável, a eficiência energética e a gestão responsável dos recursos, bem como promover a inovação tecnológica nas cidades inteligentes. Buscamos criar um legado duradouro para além de 2024 e envolver os cidadãos nesse processo, promovendo o desenvolvimento urbano sustentável e participativo que sirva de modelo para outras cidades”. Creio eu que as mesmíssimas palavras seriam (re)utilizadas pela Responsável da candidatura de Guimarães a Capital Europeia Verde.

Valência implementou, ainda segundo o mesmo responsável, “uma série de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade, permitindo melhorar a qualidade do ar, promover a mobilidade sustentável e a gestão eficiente de água e resíduos. A cidade demonstrou um forte compromisso com a redução de emissões e a adaptação às mudanças climáticas, aspetos-chave em sua candidatura.”

Ora no caso particular da gestão da água, Valência enfrentou o desafio da gestão sustentável dos recursos hídricos e” desenvolveu uma abordagem inovadora para o reúso da água e a gestão eficiente dos recursos hídricos, especialmente importante numa região que deve enfrentar períodos de escassez de água”.

A inovação e as cidades inteligentes por meio do uso da tecnologia para melhorar a gestão das cidades foi outro fator decisivo, pois Valência avançou na implementação de soluções inovadoras em áreas como mobilidade, eficiência energética e participação cidadã, tornando-se um exemplo de cidade inteligente orientada para a sustentabilidade.

Reafirmo a minha solidariedade com os habitantes desta região de Valência, que tenho visitado nos últimos anos por motivos profissionais. Mas referir esta distinção, que pode ser também importante para Guimarães, é pensar como devemos intervir verdadeiramente em políticas publicas que afetem a comunidade. E nisto Guimarães muito tem de refletir.

Ora, mais do que seguir em conceitos e discussões etéreas e que estejam na moda (algumas de perfeito wookismo) o necessário é planear (com vistas largas e longas) e executar, mesmo que nem todos estejam de acordo. Medidas imediatas, de circunstância, com fita de cortar incluída, não bastam e são sobretudo fenómenos de desalento e de atraso dos territórios e dos seus cidadãos. Guimarães muito tem de refletir (por exemplo, promove-se, agora, a ferrovia como forma de mobilidade sustentável, mas substitui-se a via-férrea pela ciclovia; ou não está ajustada às necessidades das populações e de circulação, ou mesmo, não se prevê ou planeia, mas, em contrapartida, inaugura-se, com pompa e circunstância, as bicicletas).

É verdade, também precisamos de festas, mas precisamos mais de quem planeie e execute a pensar nos tempos futuros e nas novas gerações – em Valência, as decisões de ontem salvaram vidas, no ano da sua Capital Verde Europeia.

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