Um caminho para o desenvolvimento
Há uns anos atrás, num evento solidário no qual participei, um dos oradores convidados centrou a mensagem do seu discurso no seguinte: “A função das empresas é gerarem lucros, que lhes permitam depois ajudarem quem mais precisa”. Não posso discordar mais!
As empresas não existem para praticarem caridade cristã. Têm um dever cívico, tal como qualquer um de nós, de serem solidárias, mas o seu objetivo principal é a obtenção do lucro, propiciando uma remuneração adequada e justa dos seus acionistas e dos seus trabalhadores, no sentido de que, especialmente estes últimos, possam ter uma vida digna e com padrões de bem-estar “normais” para um país desenvolvido, não necessitando, assim, da caridade alheia.
Tem-se notado nos últimos anos, um aumento da preocupação dos gestores em implementarem políticas de aumentos salariais consistentes, tentando ao mesmo tempo reinventar as suas empresas, por forma a que consigam acomodá-los sem perderem competitividade (veja-se o exemplo de uma indústria tradicional como o têxtil e vestuário, que tem aumentado a sua competitividade, ao mesmo tempo que se tem verificado um aumento sustentado dos salários praticados). Mas, por si só e de forma isolada, não tem sido suficiente.
Um estudo recente da Fundação Francisco Manuel dos Santos conclui que cerca de 20% da população portuguesa vive abaixo do limiar da pobreza, e destes, cerca de 1/3 está a trabalhar. Ou seja, num país com 10 milhões de habitantes, praticamente dois milhões são pobres, e cerca de 650.000 são pobres mesmo tendo um emprego estável.
Os dados do nosso concelho não são mais animadores – segundo dados da Pordata, o concelho de Guimarães tem um rendimento médio por habitante inferior à média nacional, e está posicionado no 134º lugar num total de 308 concelhos, bastante abaixo de alguns concelhos vizinhos como Braga ou Famalicão que ocupam o 54º e 74º lugar, respetivamente.
Ora, a única forma de inverter este cenário é através do aumento da riqueza criada no país. E numa economia com baixos níveis de capital disponível, a única via para atingi-lo é através da captação de investimento estrangeiro, que resulte na instalação de empresas que criem valor acrescentado e postos de trabalho qualificados e bem remunerados.
O estado, quer a nível central como local, terá que desempenhar o seu papel, criando um ambiente favorável à prosperidade dos negócios, mas, tão ou mais importante, fazendo-o em conjunto com uma política ativa de captação de investimento.
Num momento em que está em curso a revisão do PDM, é crítico que se criem condições para que mais empresas decidam instalar-se no nosso concelho, empresas que aportem valor, não mais superfícies comerciais a praticarem baixos salários e contratos precários, que destroem o comércio local e pouco contribuem para o desenvolvimento do concelho.
O candidato às eleições autárquicas deste ano que trate devidamente este tema no seu programa eleitoral, terá com toda a certeza o meu voto.
Nota: Artigo de opinião originalmente publicado na edição #02 do Jornal de Guimarães, a 14 de maio de 2021