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O bem e o mal político-social

Diogo Nuno Mesquita
Opinião \ segunda-feira, agosto 04, 2025
© Direitos reservados
A democracia está a ser corroída por um moralismo cego e polarizado.

Começa com a ridicularização dos concidadãos, aos quais chamam de bicho antidemocrático de tendências totalitárias. Rasgam as vestes para denunciar o eleitor do extremo oposto ao seu, como macacos que não veem o rabo, cobertos da moralidade e ignorância que a doutrina lhes vaticinou. A estes intolerantes, de qualquer ponta do espetro, foi-lhes incutido que o mundo estava previsto e calculado no seu funcionamento, que só um caminho estava certo e só a certeza dos seus prometidos resultados daria garantias do melhor que preconizavam. Os restantes estavam todos errados no caminho e mundo que idealizavam.

Mas em ambos os lados havia provas contrárias, a história repetia-se ciclicamente e a loucura intensificava-se de cada vez. É mais exaustivo encontrar narrativas que encham de razão quando existem provas contraditórias espalhadas por todo o lado. Quase não podem abrir os olhos para não as ver; mas quem não está disponível para esse cansaço não merece poder lutar pelo maravilhoso caminho – é sinal de fraqueza entre eles, os radicais, não estar. Só um conformado estaria disposto a ceder às evidências, e conformado é o pior que se lhes pode chamar.

Por tudo isto, e mais, resta-me concluir que é o que vamos tendo. É o ponto a que vamos chegando. Permitam-me só que continue:

A democracia está a ser corroída por um moralismo cego e polarizado. A tentação de desprezar o próximo alimenta o ódio do desprezado, e a facilidade com que se ridicularizam pessoas desesperadas por temas ignorados é inflamatória. É a gente da tal bolha que não atinge as motivações, que vão além da perfeita noção de vazio político que são determinados partidos, até à oportunidade de responderem a esse desprezo generalizado. Porque há partidos e pessoas que lhes aparecem desproporcionalmente, com prioridades que insultam as suas necessidades e desvalorizam os seus problemas. Porque usam essas aparições para chamar de perceções mal informadas à sua vivência, a mesma que lhes permite registar as tentativas de branquear o mal dos bons face ao mal dos maus. É o que acontece nas bolhas – sobrevalorizam-se ideias de mundo potenciadas por isolamento enquanto indivíduos ou grupos. E parece sensato, cada vez mais, haver cautela em relação a certezas absolutas. Fazem falta dúvidas, e humildade, para pensar sobre elas e questionar, sem ostracizar os que votam enquanto assistem a uma elite discutir sobre os seus problemas sem qualquer contacto com o que passam, chamando-os ainda de fascistas por votarem livremente. Extremos são extremos – não há radicais do bem e radicais do mal, e geringonças sempre serão geringonças. Todos adotam a postura do lobo em pele de cordeiro para conseguirem o resquício de poder que lhes possibilita influenciar decisões, e só aí se percebe o seu real valor, que é o que permite regressar à normalidade que provavelmente não deixará de ser medíocre.

Mas agora torna-se a democracia inconveniente. Baseada em construções mentais impulsionadas por perceções que afinal importam. O que pensam as pessoas, parece que sim. E nem tudo vive de análise de dados. Nem todos vivem para os analisar. O que muitos fazem, por ignorância ou má-fé, é manipulá-los conforme a utilidade que tenham à narrativa da sua doença ideológica, arrastando o rebanho que a repete por aí. Por isso, e mais, a resposta vem sendo dada.

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