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No palco da memória: a arte discreta de Cristina Reis

Francesca Rayner
Opinião \ sábado, novembro 20, 2021
© Direitos reservados
É bom ver o trabalho desta figura importante das artes performativas reconhecido pelas instituições culturais. NA próxima vez que forem ao teatro, demorem o vosso olhar na cenografia do espetáculo.

No início deste mês, passei pelo Centro Internacional de Artes José de Guimarães (CIAJG) para ver as exposições temporárias. Transitando entre as várias exposições, encontrei uma pequena mostra dos trabalhos da cenógrafa Cristina Reis. Os cenógrafos raramente atraem a atenção dos públicos do teatro ou da crítica que, normalmente, estão mais interessados nos atores e nas atrizes, ou nos encenadores. O trabalho de cenografia num espetáculo está muito presente, define atmosferas para os espetadores, os mundos em que vivem as personagens e uma utilização específica dos espaços do teatro na sua materialidade. Mas quantas vezes o público sai do teatro e comenta a cenografia? Quantas vezes é que a crítica menciona e analisa o espaço cénico?

Embora o nome de Luís Miguel Cintra esteja para sempre associado ao Teatro da Cornucópia, Cristina Reis é tão central para a história desta companhia como o seu ator/encenador principal. A artista nasceu em Lisboa em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. Fez o curso de pintura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e, em 1975, iniciou a sua atividade de cenógrafa e figurinista no Teatro da Cornucópia, com Jorge Silva Melo e Luis Miguel Cintra. Desde então, foi responsável pelos cenários e figurinos da quase totalidade dos espetáculos aí realizados até 2016, uma seleção dos quais se encontra em exposição no CIAJG.

Esta inclui cartazes, folhas de sala, fotografias e slides. Enquanto via os slides passar, as memórias dos espetáculos da Cornucópia voltavam e enchiam os espaços em volta. Espetáculos de dramaturgos tão diversos como António José da Silva, Heiner Müller, Federico Garcia Lorca, Gil Vicente, Pirandello e Strindberg. As imagens gráficas e as fotografias eram inseparáveis dos espetáculos, demonstrando a importância de uma das poucas mulheres com uma carreira longa nas artes performativas.

Para alguém como eu, que estuda Shakespeare, gostei de ver as fotografias da cenografia de Júlio César e os vários ensaios destinados a criar a imagem gráfica do Hamlet. Cristina Reis ganhou vários prémios ao longo da sua carreira e, em 1999, o prémio Almada/Teatro foi-lhe atribuído pelo Ministério da Cultura pelo conjunto da sua obra. Estes prémios revelam a importância atribuída ao trabalho de Cristina Reis pelos seus pares e pelos agentes da cultura.

Mas como a informação sobre esta pequena exposição bem demonstra, a cenógrafa era mais frequentemente encontrada sozinha a trabalhar nas suas criações nos espaços do teatro do que vista nas luzes da ribalta. É bom ver o trabalho discreto desta figura importante das artes performativas reconhecido pelas instituições culturais. NA próxima vez que forem ao teatro, demorem o vosso olhar na cenografia do espetáculo.  

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