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O Desporto e a Atividade Física no Jogo de hoje (continuação)

Francisco Oliveira
Opinião \ domingo, junho 25, 2023
© Direitos reservados
A marcha, a corrida e a caminhada desenvolvem e fortalecem a resistência. A vida do ser humano é uma luta de resistência contra a fadiga psíquica e física.

O desporto e a atividade física está hoje, mais do que nunca, ao serviço da saúde e da ecologia integral. Saúde entendida, logicamente, como a OMS a define: como física, mental e social. Ou seja, na integridade de cada pessoa e, acrescento, na interação real e vital com o meio em que cada pessoa existe e se move. É óbvio de que não poderemos regressar ao estado anterior da existência do ser humano, ou mesmo a um estado selvagem (como alguma “filosofias” ilusoriamente propõe-nos). Contudo, se continuarmos nesta lógica de consumo e de sedentarismo é com a saúde que pagaremos o alto preço da nossa existência. Schopenhauer no século XIX já nos tinha alertado – “a saúde ultrapassa de tal modo os bens deste mundo que um pedinte saudável pode ser mais feliz do que um soberano doente”. O desporto e a atividade física, andar ou correr, ou outra atividade/desporto que seja, é pela nossa saúde e felicidade, mostrando o jogo como parte essencial da educação geral de cada ser humano e cidadão. Ser pessoa hodiernamente passa obrigatoriamente por aqui.

Na antiguidade clássica um complexo de saúde compunha-se de hospital, estádio e santuário. O estádio não era de modo algum uma fábrica de campeões, onde tudo e todos (como acontece hoje de sobremaneira) se orientam e movem os seus esforços para bater recordes e superar os limites de cada um dos atletas. Na antiguidade, sem desprezar os campeões e a necessidade de ganharem, promovia-se uma educação integral do atleta, homem inteiro e completo. Só quando o estádio contemporâneo perceber a sua verdadeira vocação, seja ginásio, piscina, pista, etc., e escancararem as suas portas e voltarem aos valores do jogo de sempre, cumprirão a sua missão na educação geral dos seres humanos. Em tempos marcados pela insustentável leveza do ser, como connosco partilhou Milan Kundera, e onde muitos confundem autenticidade com espontaneidade emocional, ou mesmo intimista, e valorizam como principal critério de valor a intensidade de uma experiência emocional, só se pode perceber pela insustentabilidade deste ser que se esvazia em consumos e diversões. Ou, como diria Heidegger, a “falsa vida dos passatempos” é o alto preço a pagar, que desagua, sempre, na doença da contemporaneidade ocidental – a depressão. O louco anseio por férias intermináveis gera o tédio e o desencanto, e, simultaneamente, o lar esvaziado de pessoas e de coisas com significado não nos faz regressar a casa, às raízes do amor recíproco. Não raras vezes tudo se reduz a uma necessidade frustrada de sentido, que resulta em ressacas existenciais, e a falta de enraizamento mais profundo na vida de cada qual e da sociedade como um todo (hoje habitamos uma sociedade do turismo), desorienta-nos do essencial e da contemplação da vida com as suas alegrias e tristezas. Urge regressar a uma educação integral, a uma ecologia integral, onde todas as dimensões da pessoa humana são valorizadas e integradas na educação de cada pessoa e da sociedade.

Dizem muitos que a marcha e a corrida, e eu digo também, a caminhada, são os exercícios mais naturais e que expressam a dimensão fundamental da nossa humanidade – levanta-te e anda. Todos, novos e velhos, menores e maiores, podem e devem, segundo as suas condições, cumprir este propósito: levanta-te e anda. Nestes hábitos sedentários em que moramos em casa, no carro, no trabalho, na praia, etc., no trabalho e no lazer, em família e com os amigos e amigas, como é importante, pela nossa saúde, entender esta mensagem que o mundo antigo nos ensina – no estádio praticamos o jogo, como atividade física ou desporto; no santuário ousamos ir além dos limites do nosso corpo, superando um imanentismo que termina na ponta do nosso nariz, e estabelecer uma ligação que transcenda no encontro com os outros e as outras e o Outro, gerando em cada qual um sentido fundamental do existir e ser humano (seja Deus e/ou os outros, as outras); no hospital onde podemos promover a saúde e não somente cuidar das nossas doenças. A marcha, a corrida e a caminhada desenvolvem e fortalecem a resistência. A vida do ser humano é uma luta de resistência contra a fadiga psíquica e física, a crise climática (hoje expressão maior da poluição do meio ambiente), as doenças e o envelhecimento. Ora, sabemos que se a parte física/desportiva for valorizada e realizada, todas as outras dimensões da pessoa humana são valorizadas e a sua resistência aumenta. Isto é, somos sempre um todo, e não partes justapostas. O desporto e a atividade física são hoje o jogo, a brincadeira, que promove a nossa melhor adaptação ao mundo e melhora a nossa relação com tudo e todos/todas. Na sociedade do bem-estar, de alimentação abundante e saborosa, do esforço físico reduzido ao estritamente necessário, com o consequente sedentarismo, associa-se à depressão a doença da obesidade e uma humanidade ensimesmada.

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