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Educação Ambiental

José Cunha
Opinião \ segunda-feira, janeiro 29, 2024
© Direitos reservados
Foi-nos legada uma bola (azul se vista ao longe) que usamos e estragamos até ao ponto de sabermos que, se não for reparada, os nossos filhos terão dificuldades em se servir dela.

Na passada sexta-feira – dia 26 de Janeiro – foi celebrado o Dia Mundial da Educação Ambiental (EA). Esta data assinala o encontro em Belgrado (1975) de um grupo internacional de peritos, que no seguimento da Conferência de Estocolmo (1972) ficou incumbido de reunir critérios e princípios comuns que pudessem inspirar os cidadãos do mundo a cuidar do ambiente.

O resultado desse encontro ficou inscrito num quadro de referência para a EA – Carta de Belgrado – que incluía objetivos, publico alvo e princípios orientadores, e que tinha como meta “desenvolver uma população mundial que está ciente e preocupada com o ambiente e os seus problemas associados, e que tem o conhecimento, habilidades, atitudes, motivações e compromisso para trabalhar individual e coletivamente para a resolução dos problemas atuais, e na prevenção de novos.”

Este conceito de EA tem evoluído, e agora há quem prefira usar o termo Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) por estar mais alinhado com os atuais desafios ambientais.

No entanto, e na minha perspetiva, a prática da EA não acompanhou a evolução do seu conceito, estando até em divergência com o propósito da solidariedade intergeracional que está subjacente ao desenvolvimento sustentável.

Na realidade portuguesa, e em concreto na de Guimarães, a aposta na EA (ou EDS) é cada vez mais focada nas crianças, por oposição à educação não formal ao longo da vida que assume um caráter residual na prática das entidades do estado.

Esta prática de forte aposta na EA das crianças faz parte de uma narrativa que não podemos admitir. Dizem-nos que os atuais problemas têm raiz em comportamentos geracionais que não se mudam por decreto, e que a solução é educar as crianças para um novo comportamento, justificando, dessa forma, que nada ou pouco façam e que sejam bem vistos e elogiados por essa aposta nas crianças. Mas esta narrativa, e outras que vamos encontrando, não são mais que justificações que ocultam o cruel egoísmo das gerações adultas, que instaladas nas suas poltronas de privilégios e conforto pouco fazem para reparar o mal que fizeram ao mundo.

Foi-nos legada uma bola (azul se vista ao longe) que usamos e estragamos até ao ponto de sabermos que, se não for reparada, os nossos filhos terão dificuldades em se servir dela. Mas perante esta evidência e urgência em vez de a reparar, continuamos a dar-lhe pontapés e ensinámos às crianças o que podem fazer para a reparar.

A EA precisa de sair das salas de aula e de vir para a rua, e para a casa das pessoas. Mas precisa de forma especial de chegar aos decisores políticos. De que vale ter um dos melhores programas de EA (Pegadas) do país quando em Guimarães se continua a contribuir para a insustentabilidade do território com brutais destruições de zonas agrícolas e ecológicas?

Mas a mudança que entendo como necessária na EA não se limita ao público-alvo. Apesar de haver quem ache que EA deve ser feita de modo a evitar a “eco-ansiedade” (medo crônico da catástrofe ambiental) nas crianças e na população em geral, eu estou convencido de que a urgência na ação exige uma mobilização da sociedade que só será possível com a noção inequívoca das consequências da inação.

Precisamos de uma EA mais abrangente no seu alvo e mais contundente no seu conteúdo.

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