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dENSIDADE, dIVERSIDADE, dINAMISNO: OS 3 d DA CIDADE

Filipe Fontes
Opinião \ quarta-feira, outubro 02, 2024
© Direitos reservados
E é nestes momentos de discussão (e confusão), em que tantas vezes se fica perdido e parado, que é bom tender para o regresso aos fundamentos, a saber: densidade, diversidade, dinamismo.

Como muitas vezes digo e escrevo, o tempo vira e revira, rebola e volta a virar numa síncope de mudança e construção que, cada vez mais, se apresenta (aparentemente) pouco previsível e controlável.

Porque assim é, é sempre bom e aconselhável regressar à “essência das coisas”, ou seja, a tudo aquilo que é causa e razão, suporte e estrutura. Por outras palavras, a tudo aquilo que motivou e organizou o nascimento e posterior desenvolvimento…

A(s) cidade(s) vive(m) hoje um tempo de desafio imparável e contínuo, conhecendo, em simultâneo, um protagonismo que suplanta muitos países, um crescimento que parece incontido e “incontível”.

Fruto deste processo, e pelo menos “por cá”, ou seja, neste bocado de território feito nação, recorrentemente, o tema da densidade (em associação a planos directores municipais e afins) volta a ganhar destaque e presença nas discussões urbanas, assistindo-se ao retorno das recorrentes dicotomias da construção em altura e da densidade, do espaço público e da paisagem, entre outras tantas.

E é nestes momentos de discussão (e confusão), em que tantas vezes se fica perdido e parado, que é bom tender para o regresso aos fundamentos, a saber: densidade, diversidade, dinamismo.

A cidade foi criada em função da necessidade humana em se relacionar. E, ao relacionar-se, de se abrigar, de trocar, de se confortar e apoiar na descoberta de novas realidades de melhoria diária e contínua. A cidade não nasceu por opção mas por necessidade evidente. E nasceu sobre o território, transformando-o no processo da melhor acomodação do abrigo para habitar, da actividade humana para alimentar e trocar, do caminho para movimentar e ligar. Foi assim e, acredita-se, será assim. E, ao ser assim, a cidade não resistiu ao privilégio do uso e recurso das três palavras mencionadas: densidade, diversidade e dinamismo.

Densidade porque procurou sempre juntar e aproximar as pessoas, porque tal favoreceria as relações entre elas e libertaria espaço para a actividade económica e para o encontro do grupo (construção de comunidade). E exigiria menor esforço de construção (porque umas ajudavam a suportar as outras), de infraestruturas (mesmo que, aos olhos actuais, incipientes) e de investimento (em mão de obra, em meios, …). A densidade, que significa rentabilizar proporcionalmente o espaço – é causa e fundamento da cidade, ganhando (ao longo do tempo) matizes e diferentes perspectivas. Porque à cidade são indissociáveis a mudança e o dinamismo. Ou seja, a cidade é o reflexo dela própria e da sua circunstância. E se não cuida da sua circunstância (isto é, se não se adapta ao tempo que vive, à população urbana e demografia, à tecnologia e capacidade humana) não se salva a si própria .

Por força da necessidade, por inerência da actividade humana, a cidade é um “organismo vivo” que se desenvolve na justa medida daqueles que a habitam. E porque deve responder ao que os seus habitantes e aspirantes procuram, deve adaptar-se, mudando e acomodando-se (claro está, com qualidade e justeza!).

Sendo densa e dinâmica, a cidade é (deve ser) diversa… que significa ser capaz de tudo abarcar, responder e relacionar. A variedade e a diferença sempre foram constantes urbanas e motores do dinamismo das cidades. Aceitar o outro faz parte da relação humana, afinal, o principal motivo do nascimento da cidade e grande factor de aceitação e incorporação da “novidade e (re) interpretação” de novos usos.

“Percebo que nem sempre as coisas que são feitas na cidade são positivas. Mas tudo tem de ser visto caso a caso sem partis pris (preconceitos). A cidade precisa de se adensar para funcionar melhor e ser mais democrática e inclusiva. Muitas vezes, estas questões são politizadas, o que é um erro… a cidade é o lugar de todos. Quando deixa de o ser, deixa de ser cidade…” .

O tempo é da(s) cidade(s). E a(s) cidade(s) depende(m) do tempo… nunca esquecendo, para quem actua, age, gere e transforma a cidade, valerá a pena voltar ao princípio ateniense e fazer dele renovado princípio de actuação: convictamente, devolver a cidade aos seus sempre bonita, sempre mais bonita!

** texto escrito algures no tempo que se replica porque convicta oportunidade e pertinência…

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