Continuar a semear Abril
Celebraram-se este ano, os 51 anos do fim do regime ditatorial que assolou Portugal durante mais de quatro décadas. Na madrugada de 24 para 25 de abril de 1974, um movimento despoletado pelo Movimento das Forças Armadas iniciou aquela que ficaria conhecida como a “Revolução dos Cravos”. Com esta Revolução, chegavam ao fim duros anos de ditadura, de sofrimento e de negação das liberdades básicas, que hoje temos como adquiridas.
A fragilidade da nossa democracia, e o facto de tomarmos os nossos direitos e liberdades como garantidos, torna importante a reflexão acerca da vida antes do 25 de Abril de 1974. Para além do silêncio forçado, da censura dos jornais e da perseguição a todos aqueles que eram vistos como oposição, estima-se que, um ano antes da Revolução, cerca de 43% da população vivia na pobreza, sobretudo nas zonas rurais. Áreas estruturais como a Saúde e a Educação eram menosprezadas em prol de uma Guerra que os portugueses não queriam combater - uma guerra que consumia as vidas e os sonhos de muitos jovens. Na década de 1970, cerca de 30% da população portuguesa era analfabeta, sendo que destes, 64% eram mulheres. O acesso à Saúde era muito limitado: sem Sistema Nacional de Saúde, poucos eram os que conseguiam pagar cuidados de saúde básicos, e a mortalidade infantil era muito elevada.
Na madrugada de 24 para 25 de Abril de 1974 este regime chegava ao fim. Aos militares uniu-se um povo, cansado de pensar na Liberdade apenas como um sonho. A Revolução de 25 de Abril de 1974 trouxe a tão desejada Democracia, assim como diversas conquistas. Com a nova Constituição, foram garantidos Direitos fundamentais, como o Direito ao Voto ou a igualdade de direitos no acesso à Educação e aos cuidados de Saúde. Abril abriu diversas portas e tornou a sociedade portuguesa mais igualitária, onde todos podem sonhar. Passados 50 anos das primeiras eleições em Portugal, que visaram a eleição de uma Assembleia Constituinte, a vida tornou-se mais digna. Apesar de ainda enfrentar os seus desafios, a pobreza desceu para os 16% na atualidade, sendo que cerca de 97% da população portuguesa sabe, agora, ler e escrever e, com a expansão do Serviço Nacional de Saúde, 99% dos portugueses passaram a ter acesso a cuidados de Saúde dignos.
Atualmente somos confrontados com um cenário negativo - a crise da Habitação em Portugal tira a dignidade a muitos, assim como a crise na Saúde e na Educação. Cresce, também, o discurso de ódio, característico - sobretudo se realizarmos uma análise histórica - dos períodos de crise. Quando confrontado com crise, o ser humano vê a necessidade de encontrar um culpado, aquele que é responsável pelo contexto. Porém, ao invés de cairmos no erro de encontrar a solução na culpa pelo próximo e na possibilidade de vermos retiradas as nossas liberdades e os direitos consagrados na Constituição, devemos recordar Abril, e recordar o que era o antes da Revolução dos Cravos. Devemos continuar a lutar por estas conquistas e pelos magníficos ideais da nossa Revolução, que são os pilares de uma sociedade justa e igualitária. Devemos, sobretudo, continuar a semear Abril, hoje e todos os dias!