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Consumidor final

Diogo Nuno Mesquita
Opinião \ terça-feira, outubro 07, 2025
© Direitos reservados
...quando falamos da sustentabilidade do planeta, as coisas tornam-se enviesadas, políticas, negócio, agarradas a moralismos e posições extremadas, e por isso não fazemos mais nada para além de falar.

Às vezes parece que se tenta imputar ao indivíduo uma responsabilidade maior do que alguma vez poderia ter na realidade. Como se a salvação do mundo dependesse inteiramente deste desgraçado. Cobra-se-lhe tudo, exige-se-lhe quanto se pode, e ainda acaba chantageado pelos ajustes que devia fazer em prol do planeta, seja ao nível do consumo de água, energia, combustíveis, ou reciclagem do lixo.

Como se produtos e mercados que possam colocar em causa a sustentabilidade e a saúde do globo não devessem ser estruturalmente planeados. Preparados para uma utilização eficiente e devidamente incentivada por uma relação justa de custo-benefício, salvando assim, com facilidade, o planeta. Em vez disso, vive-se da cartada colorida do mundo maravilhoso que se quer promover à custa dos sacrifícios que alguns talvez façam para que todos beneficiem, mas sem regras – simplesmente boas sensações.

A este consumidor cobram-se estadias em hotéis, contemplando no preço o custo da mudança diária dos lençóis – do trabalho, da água e dos detergentes necessários para os lavar e substituir, – sendo depois deixada a recomendação, muitas vezes via bilhete pousado em cima da cama, de que não deve solicitar essa mudança a não ser que seja mesmo preciso, pensando no planeta azul, que passaria melhor. Ora, parece-me fantástico que alguém esteja disposto a ceder o extremo luxo de dormir numa cama lavada diariamente por um mundo melhor, mas a questão devia passar sempre por uma relação de custo-benefício – se, de facto, o planeta passaria melhor e seria vantajoso reduzir a quantidade de lençóis lavados por dia, então esse serviço devia ser cobrado pelo valor real que representa, diminuindo assim a procura, como apregoam ser necessário. Talvez devesse sair do custo da estadia e cobrado como extra a quem o solicitasse. Mas por que haveria de ser o indivíduo, vítima desta chantagem moral, o responsável por esse financiamento do planeta feliz? Por que haveria de ser responsabilizado por algo sobre o qual não exerce impacto nenhum, quando o problema, se é que existe nos termos em que lhe é apresentado, se atenuaria imediatamente com a aplicação de medidas diretas? Não parece ser reconhecido como urgente, sendo deixado ao critério do consumidor final a decisão de salvar, ou não, o planeta, a cada bela noite de sono em lençóis acabados de lavar de três ou quatro dias. Fica a sensação de que talvez seja um problema de excessiva relevância para alguma minoria, instrumentalizado pela comunidade hoteleira como forma de baixar custos e aumentar lucros enquanto faz o papel de bom samaritano da sustentabilidade.

Se há necessidades que exigem a ação das pessoas pelo bem do pedaço de terra onde vivemos, e a capacidade da sua voluntária intervenção é tida como relevante num contexto moderado e de bom senso, que sejam promovidas e incentivadas de forma justa e equilibrada. Valorize-se essa ação, tornando-a motivadora para todos. O problema é que, quando falamos da sustentabilidade do planeta, as coisas tornam-se enviesadas, políticas, negócio, agarradas a moralismos e posições extremadas, e por isso não fazemos mais nada para além de falar

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