Comércio tradicional? Presente!
Digamos que estamos a viver o primeiro ano completo sem restrições, depois de termos sido condicionados por uma pandemia que nos obrigou a alterar hábitos, a adotar vivências e a procurar soluções para continuarmos o nosso dia a dia dentro da normalidade possível.
Por essa razão, as relações de proximidade com a família, com os amigos, com os vizinhos e até com o senhor da mercearia do bairro assumiram uma importância ainda maior, sobretudo face ao isolamento a que muitos se viram obrigados.
Após dois anos particularmente difíceis, importa ter em atenção e valorizar um elemento que muitas vezes nos passa ao lado, mas que nos é tão essencial na preservação, também, da memória de uma cidade: o comércio de proximidade.
Há dois anos, o natural receio face às multidões quase que fazia adivinhar um ponto de viragem em torno das lojas tradicionais. Acreditou-se que se estaria às portas de uma nova era de fidelização em relação a estes espaços. Não terá sido bem assim.
Sabemos que este modelo de comércio propicia a convivência, o reforço das relações sociais, filas menores face às grandes superfícies, assim como ausência de grandes deslocações. Apesar da resiliência de tantos, há muitos que estão a encerrar portas. Ou por cansaço ou por falta de quem os quisesse substituir no seio familiar. Ou por outros motivos.
Nesta quadra propensa a compras de Natal, talvez fosse oportuno conhecer o ponto de situação do projeto “Lojas com História”, programa da autarquia que pretende proteger, apoiar e incentivar algumas das casas mais antigas da cidade, desde sapatarias a joalharias, tabernas, drogarias ou chapeleiros.
Na verdade, há moradas quase que imortais na cidade, que ganham um estatuto intemporal na nossa memória. Mesmo quando desaparecem. Os vimaranenses gostam de sentir a sua cidade. Esta semana, por exemplo, as ruas de Guimarães estavam repletas de pessoas. E não seriam as iluminações de Natal a principal razão, até porque era de dia e, por estarem desligadas, passavam quase que despercebidas.
A tradição está na moda, mas será que isso se reflete no comércio local? As ruas estavam cheias, mas as compras fazem-se online? É sempre simples e prático comprar através de um equipamento informático, mas falta o atendimento cuidado, o sorriso familiar, a assertividade de quem sabe o que o cliente procura, a cordialidade de quem, já em tempos, atendeu os nossos pais ou avós. E nos ofereceu um doce à saída…
Talvez fosse oportuna uma mudança de mentalidades, como aquela que a pandemia anunciou. E que ainda não se concretizou. Talvez seja necessário partir de nós, consumidores, a vontade de mudar o estado de coisas. E contribuir para a vitalidade do comércio de rua. Comprando.