Natureza e biodiversidade como elemento dinamizador da economia
Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, a atividade humana para a produção de alimentos, infraestruturas, energia e exploração mineira é responsável por 79% do impacto nas espécies ameaçadas e apenas através da transformação destes sistemas será possível substituir a destrutiva influência humana por uma economia positiva para a natureza.
As grandes economias mundiais, através do 2.º Relatório sobre a Nova Economia da Natureza, da responsabilidade do Fórum Económico Mundial, com base nestas preocupações, apresentam uma série de transições que inverterão a perda de natureza, e logicamente da biodiversidade, implicando um forte impacto na economia e na vida do planeta. Perda de biodiversidade, aliás, considerada como a terceira ameaça mais grave para a humanidade nos próximos 10 anos, segundo o Global Risks Report 2022 do Fórum Económico Mundial.
Ora, este relatório do Fórum Económico Mundial apresenta cinco transições fundamentais na economia global que, para além da intervenção na redução da perda de biodiversidade, aportam triliões de dólares de novas oportunidades económicas, criando mais de 100 milhões de empregos. Se é verdade que estamos perante uma análise mundial, à escala de Guimarães, perante a candidatura a Capital Europeia Verde, mas sobretudo no momento em que avaliamos alterações ao nosso ordenamento territorial, através do PDM, deveríamos refletir sobre estratégias fomentadoras de desenvolvimento e protetoras de biodiversidade.
Uma primeira abordagem foca o Ambiente construído compacto, que tem como fundamento um desenvolvimento urbano de maior densidade, libertador de espaço para a agricultura e a natureza. Propõe-se uma densificação estratégica das cidades e aglomerações existentes, a redução da expansão urbana, que destrói os habitats de vida selvagem e a flora e fauna, e a criação de projetos de gestão da conservação para proteger a biodiversidade em áreas que tenham sido poupadas ao desenvolvimento.
Outra estratégia centra-se menos no ser humano, colocando a biodiversidade no centro da conceção do projeto, em ambientes construídos que partilham espaço com natureza, num Ambiente construído positivo para a natureza. Compreende infraestruturas localizadas de modo a evitar ou minimizar a destruição da natureza e edifícios eficientes em termos de energia e recursos, incluindo empreendimentos com espaços amigos da natureza e pontes ecológicas para ligar habitats ao ambiente.
Serviços públicos que gerem eficazmente a poluição do ar, da água e dos resíduos sólidos em ambientes urbanos, beneficiam a natureza e reduzem a perda de biodiversidade, senda este o terceiro pilar que envolve Serviços de utilidade pública urbanos compatíveis com o planeta.
Considerar a natureza como infraestrutura implica uma interessante incorporação de ecossistemas naturais em áreas construídas, em que planícies aluviais, zonas húmidas e florestas constituiriam uma parte essencial dos novos ambientes construídos. Contribui para a produção de ar limpo, para a purificação natural da água e reduz o risco de fenómenos climáticos extremos.
Por fim, construir infraestruturas de ligação favoráveis à natureza, estradas, caminhos-de-ferro, oleodutos e portos, com uma mudança na abordagem do planeamento para reduzir os impactos na biodiversidade, a construção de corredores de vida selvagem e a mudança nos transportes para energias renováveis.
Partilhamos muitas decisões num mundo globalizado e preocupado com o ambiente (biodiversidade, alterações climáticas). Mais do que medidas pontuais e suportadas por necessidades imediatas (ou mau planeamento) consideremos o que estudos internacionais possam aportar à nossa realidade atual (expansão urbanística, infraestruturas - via do AvePark; mobilidade, proteção da natureza e zonas agrícolas) e se realize um aprofunda reflexão sobre as propostas locais e sua compatibilização com preocupações e estratégias mundiais. Fazer política é pensar no futuro e nas gerações que se seguem.