skipToMain
ASSINAR
LOJA ONLINE
SIGA-NOS
Guimarães
22 novembro 2024
tempo
18˚C
Nuvens dispersas
Min: 17
Max: 19
20,376 km/h

Um ano repleto de escolhas

André Teixeira
Opinião \ sexta-feira, janeiro 26, 2024
© Direitos reservados
Um ano tão crítico como 2024 exige de cada um nós interesse, cuidado e dedicação, independentemente de credo, crença ou ocupação. Acredito num Portugal para todos, com a participação de todos.

Inicia-se um ano de eleições, em que os Estados Unidos e a Europa terão a possibilidade de definir o seu rumo para o resto da década. O mundo encontra-se numa encruzilhada, onde as respostas e sistemas criados após a Segunda Guerra Mundial aparentam estar demasiado cansados para assegurar o futuro de um mundo multipolar onde a democracia não mais parece imbatível ou inevitável. O fim da história de Fukuyama chegou e passou, deixando para trás uma realidade onde a hegemonia dos EUA é colocada em causa, onde o Sul Global reclama por um lugar à mesa e onde os terrores do autoritarismo e fascismo ressurgem, ecoando a calma antes da tempestade que consubstanciou a segunda década do século passado. Para iniciar este ano repleto de escolhas, gostaria de relevar as três eleições mais importantes que enfrentaremos: as Legislativas de março, as Europeias de junho e as americanas de novembro.

Em Portugal assistimos ao fim de um ciclo de governação, abrindo as portas para uma nova fase da nossa vida política. Com a sombra de um partido que finalmente se assume abertamente fascista a cair sobre a eleição, Portugal escolherá uma nova geração de parlamentares e governantes. Após oito anos navegando de crise em crise, teremos diante de nós a oportunidade de dar um passo na direção correta... e também de deitar tudo a perder. Com a celebração dos 50 anos de Abril, chegam também dúvidas quanto à maturidade da nossa democracia, cujo fado será em breve depositado nas mãos de uma população que vê com desconfiança a política e aqueles que a exercem. Caberá aos eleitos renovar a confiança de que o sistema precisa, sob a pena de verem ruir os sucessos dos nossos egrégios avós em caso de falhanço.

Pouco tempo depois, teremos também um momento onde o Velho Mundo irá às urnas em uníssono, procurando definir o ideal de Europa que queremos. A desvalorização de que os sufrágios da União Europeia são alvo não diminui a sua importância, num momento onde é cada vez mais óbvio que apenas unidas poderão as nações europeias resistir a pressões internas e externas que as desejam dilacerar. É improvável que a UE seja capaz de fazer as reformas que necessita para aumentar a sua legitimidade democrática, ganhar a guerra nas suas fronteiras e afirmar-se como potência geopolítica, se no seu Parlamento tiver assento uma maioria de deputados opostos aos valores humanistas que a guiam desde a sua conceção. Seremos uma União de Estados? Qual é o estado da nossa União? As respostas a estas perguntas poderão ser desagradáveis se não as chegarmos a colocar, fingindo que o que acontece em Bruxelas não tem consequências em Lisboa.

Seremos também sujeitos a um importantíssimo momento eleitoral, no qual não teremos voz nem opção. As eleições presidenciais dos EUA, que muito provavelmente irão repetir o choque de septuagenários de 2020, definirão o papel futuro daquela que é ainda a maior potência do mundo. Apesar de toda a sua disfuncionalidade e hipocrisia, uma América desligada do seu papel de guardiã do modelo de democracia ocidental implica um mundo mais hostil, onde a lei do mais forte será cada vez mais recorrente. Não podendo o cidadão português votar nas eleições americanas, é seguro afirmar que o seu resultado será terrivelmente impactante para o nosso país. A “Pax Americana” não só não é eterna como é altamente volátil, e a absurda polarização do eleitorado americano não augura nada de bom.

Um ano tão crítico como 2024 exige de cada um nós interesse, cuidado e dedicação, independentemente de credo, crença ou ocupação. Acredito num Portugal para todos, que apenas poderá ser construído com a participação de todos. Maturidade implica decidir, tomando responsabilidade pelas nossas escolhas. Espero apenas que cheguemos ao final do ano sorrindo, orgulhosos das escolhas que fizemos pelo caminho.

Podcast Jornal de Guimarães
Episódio mais recente: O Que Faltava #83