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Em Guimarães, um espetáculo que se interroga: porque fazemos teatro?

Alberto Couto
Cultura \ segunda-feira, setembro 08, 2025
© Direitos reservados
Às vésperas da estreia, Mariana Lobo Vaz e Mariana Dixe explicam como “Obrigada por terem vindo” convida o público a refletir sobre a experiência teatral, nos dias 10 e 11 de setembro no CAAA.

A ideia nasceu há cerca de três anos, quando Mariana Dixe escreveu o texto original, mais tarde reescrito em cocriação com a atriz Mariana Lobo Vaz. O título surgiu de forma natural: uma frase repetida diversas vezes em cena e que traduz o espírito de proximidade que o espetáculo procura instaurar desde o primeiro momento. “É quase como um convite à participação, ainda que não se trate de teatro interativo no sentido convencional, mas de um espaço de cumplicidade e partilha”, explica a criadora.

O teatro a pensar sobre o teatro

“Obrigada por terem vindo” apresenta-se como um espetáculo sobre a própria prática teatral. Para a equipa criativa, a peça vive da ilusão que só o teatro permite, onde o público escolhe acreditar — ou não — no que está a ver. “É nos pequenos pormenores, nos instantes que podem parecer falhas ou improvisos, que reside a magia e que se reflete o pensamento sobre o que é o teatro”, sublinha Mariana Lobo Vaz.

O processo criativo foi marcado por uma verdadeira cocriação. Improvisações, conversas informais e contributos da equipa técnica — desde a luz ao som — moldaram um texto que foi sendo constantemente reinventado. “Não faz sentido separar texto, encenação e interpretação. Cresceram lado a lado, de forma orgânica, até se tornarem este espetáculo”, acrescenta a atriz que dá vida à peça.

Um espetáculo com muito de pessoal

As trajetórias individuais de ambas também estão presentes em cena. Mariana Dixe, com experiência na produção, trouxe uma visão simultaneamente interna e externa ao espetáculo, situada “entre a encenação e o público”. A atriz sublinha que, embora a personagem que apresenta em palco seja distinta de si, há sempre muito da sua própria voz e corpo refletido no trabalho.

Tal como a sinopse sugere, a peça levanta questões sobre o teatro e sobre quem o faz: por que motivo se sobe a palco? O que leva o público a assistir? As criadoras assumem que não têm respostas universais. “Se calhar, a resposta está na ideia de encontro. Fazer teatro é estar presente com outras pessoas, partilhar uma experiência e, no final, descobrir novas perspetivas”.

Desafios de bastidores

Além da criação artística, houve o lado menos visível mas decisivo: a produção. O projeto foi apoiado pela Direção-Geral das Artes, mas com prazos e orçamentos definidos muito antes do arranque efetivo dos ensaios. “As maiores dificuldades foram logísticas e burocráticas: pôr salas não convencionais a funcionar como espaços de teatro, cumprir calendários e orçamentos, gerir contratos e parcerias. Essa é a parte menos romântica, mas essencial para que o espetáculo aconteça”.

Questionadas sobre que mensagem deixariam a quem está a começar, ambas foram cautelosas: não há fórmulas nem garantias de sucesso. “É preciso arriscar, mas também ter consciência dos sacrifícios envolvidos. Isto do teatro não é para toda a gente. Mas, se houver vontade e disponibilidade, o teatro pode ser um lugar de encontro e descoberta”, afirmam.

O convite está feito: entrar no jogo do teatro, aceitar a personagem e descobrir o que acontece quando se pensa a cena a partir de dentro. "Obrigada por terem vindo" é uma oportunidade de encontro entre palco e plateia, onde a arte se revela nas perguntas sem respostas definidas. Em Guimarães, no CAAA, a 10 e 11 de setembro.

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