Câmara notifica CICP para abandonar Dominicas até 15 de janeiro
Fundado em 1975, o Centro Infantil e Cultural Popular (CICP) foi notificado pela Câmara Municipal de Guimarães para abandonar o Convento de Santa Rosa do Lima – vulgo Dominicas – até 15 de janeiro, divulgou nesta segunda-feira a vereadora municipal Vânia Dias da Silva, da coligação Juntos por Guimarães (JpG).
Durante a reunião do executivo municipal, a representante do CDS-PP lembrou assembleias municipais anteriores, nas quais se mencionou a eventual partilha do convento do século XVIII entre o CICP e o CINDOR, centro de formação profissional para a relojoaria e ourivesaria que vai abrir uma unidade em Guimarães, ou a transferência da associação cultural para a antiga fábrica de curtumes da Madroa, antes da notificação municipal, emitida no final de 2024, para deixar o edifício setecentista.
“A 27 de dezembro, aparentemente o CICP foi surpreendido com uma carta da Cãmara para abandonar as instalações a 15 de janeiro. (…) Sair em 15 dias parece manifestamente exagerado para quem esteve nas instalações por 40 anos”, referiu.
Vânia Dias da Silva considerou que a história da associação, com “os seus altos e baixos”, tem de “ser respeitada” e questionou o presidente da Câmara Municipal sobre se não teria sido possível uma solução mais acessível para uma associação que não tem recursos para rendas avultadas. “A ser tal e qual nos foi transmitido, este processo mostra uma atitude bastante prepotente e imperativa da Câmara. A associação merece respeito de todos os vimaranenses”, realçou. A vereadora centrista pediu uma alternativa às Dominicas, portanto. “Se houvesse uma alternativa, não acredito que a associação se mostrasse tão reticente em deixar o espaço. Não pode ser tratada de forma diferente das demais”, frisou.
O CICP nasce após o 25 de Abril, por via das Comissões de Moradores da Rua D. João I e do Bairro Catarina Eufémia, que procuravam um espaço que pudesse acomodar um infantário para as crianças daquela área da cidade. Numa publicação no seu blogue, a associação refere que a então Comissão Administrativa da Câmara Municipal cedeu o edifício para tal resposta. Desde a sua fundação, o CICP promoveu iniciativas culturais várias, como o Circultura, com espetáculos numa tenda de circo, o Festival de Teatro de Amadores de Guimarães, as mostras de gravura ou os quiosques de fanzines e de vinil. Mais recentemente, acolheu um coletivo de artistas que promoveu oficinas de criação, feiras em segunda mão, cinema e exposições flash, no contexto informal do antigo convento, em estado de degradação há vários anos.
Domingos Bragança: “A Câmara não é obrigada a notificar alguém que não é inquilino”
Perante a intervenção da vereadora da coligação JpG, o presidente da Câmara rejeitou a acusação de prepotência e vincou que a notificação para despejo foi o corolário de um diálogo que começou há cerca de ano e meio, sem uma decisão por parte do CICP. (…) Porque é que a Câmara é obrigada a notificar alguém que não é inquilino, quando houve diálogo ao longo do último ano e meio”, vincou Domingos Bragança.
O autarca lembrou que uma eventual vistoria ao edifício resultaria no seu encerramento imediato, face ao “soalho cheio de buracos” e às “queixas sucessivas dos vizinhos geminados com o edifício”, pelas infiltrações que “apodrecem as suas casas”. O presidente da Câmara reiterou também que a dimensão social do CICP está inativa há muito tempo, sobrevivendo as iniciativas culturais, que, a seu ver, podem continuar noutro sítio, mantendo-se nas Dominicas “dois ou três ateliês de pintura” para respeitar a história da associação naquele edifício.
Convencido de que a saída daquela associação em nada fere o propósito do Bairro C, programa criado pela Câmara para valorizar a cultura, a ciência e o conhecimento na área entre Couros e a Avenida Conde de Margaride, o autarca realçou que o futuro polo do CINDOR é a única oportunidade para requalificar aquele convento com dinheiro do PRR, após descartada a possibilidade de uma residência universitária. Em 30 de junho de 2024, o município aprovou um investimento de três milhões de euros para requalificar o imóvel. A seu ver, a opção “aproxima o ensino do centro da cidade e dá-lhe mais vida”.
“Precisamos de trazer o ensino para o centro da cidade. O centro da cidade ganha vida. Vamos dar aquela função importante para a indústria de ourivesaria e joalharia àquele palácio lindíssimo, com uma requalificação que preserva a sua autenticidade. O que pudermos compatibilizar com o CICP compatibilizaremos”, frisou.