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Nas “ruínas” em busca de “algo melhor”: a arte a fervilhar nas Dominicas

Tiago Mendes Dias
Cultura \ sábado, fevereiro 18, 2023
© Direitos reservados
Ao contemplar a arcada interior do convento de Santa Rosa do Lima – ou das Dominicas –, Pedro Matos recua 10 anos no tempo e aponta as diferenças.

Casa do Centro Infantil e Cultural Popular desde os anos 70, o antigo convento volta a ser espaço onde se cria e mostra arte graças a um jovem coletivo emergente: ali há oficinas de criação, feiras em segunda mão, cinema e exposições flash, a última delas a congregar centenas de pessoas.

Ao contemplar a arcada interior do convento de Santa Rosa do Lima – ou das Dominicas –, Pedro Matos recua 10 anos no tempo e aponta as diferenças. “Este jardim não existia. Era lixo. E não dava para abrir aquela porta”, recorda, apontando para o acesso às divisões interiores. Agora com 32 anos, Pedro recorda os quiosques de vinil e de fanzines que o Centro Infantil e Cultural Popular (CICP) ali organizava, as bandas de música que ali passaram, os ateliês de artes visuais, um coletivo de street art, os projetos comunitários para a Guimarães 2012 CEC ou as exposições para o Guimarães Noc Noc, antes do fôlego artístico do lugar esmorecer e agora ressurgir.

Conservado e até reparado ao longo do tempo pelos artistas e agentes culturais que por lá têm passado, aquele edifício do século XVIII acolheu uma exposição flash entre 27 e 29 de janeiro: ainda salpicadas de degradação, as paredes ostentavam pintura, fotografia ou instalações de mais de 20 artistas, selecionados por open call. “Nesse fim de semana, passaram por cá 500 pessoas. Estávamos a contar com muita gente, mas excedeu as nossas expetativas”, observa Renato Costa, artista de 25 anos que, a par de João Pinheiro, Diogo Faustino – o “Fausto” – e Guilherme Freitas, forma o coletivo No Convento.

Envolta em performance e música, “Na Esperança De Que Nas Ruínas Nasça Algo Melhor” foi a segunda exposição do quarteto nesse modelo flash – eventos de pouco tempo. A primeira, no final de outubro, também reunira mais de 20 artistas. Pelo meio, deram-se outras experiências de fruição cultural e comunitária: sessões de cinema à quinta-feira, oficinas de criação e a “feirinha de segunda mão”, abrangendo roupa, artesanato e “velharias”, elucida Renato.

Com os espaços interiores transformados em ateliês informais, Pedro Matos vê finalmente em marcha o projeto de reavivar o CICP, sob o desígnio de “promover artistas emergentes” sem espaço para “destaque”. “Às vezes, são abafados por grandes centros culturais e não têm hipótese. Queremos pôr na rua essas pessoas e dar-lhes voz”, realça.

Vinculado à associação desde 1977, Torcato Ribeiro sente finalmente que se está a “aproximar” o momento de se “libertar da responsabilidade” perante aquele lugar. “Para mim, será sempre positivo saber que o CICP tem pernas para andar”, realça.

 

Gravura, residências artísticas, música: ideias a fermentar

O coletivo No Convento é proposta de futuro para uma associação nascida de uma reivindicação: a de um infantário para os filhos dos moradores da rua D. João I e do bairro Catarina Eufémia após o 25 de Abril, recorda Torcato Ribeiro. Seguiu-se a constituição formal do CICP, a 26 de março de 1977, e um percurso com vários marcos: as ações de alfabetização, teatro ou pintura, o Festival de Teatro de Amadores de Guimarães, lançado em 1979, o auditório cultural que não o chegou a ser – ainda se veem as bases no jardim do convento -, a companhia de teatro Acasos de Rua, a inédita mostra de gravura e os quiosques. “Fomos tentando encontrar nichos que ainda não estavam ocupados. Tentámos arranjar o que faltava”, resume.

Renato, Guilherme, Fausto e João têm-se inteirado dessa história graças ao arquivo de fotos do CICP e tanto a mostra de gravura, como o quiosque de vinil são para reatar. Mas também querem deixar a sua marca naquele lugar: as residências artísticas para apoio à criação são um dos sonhos. E março trará um evento de música. Mas seja qual for a história por vir, ela tem de ser escrita na relação com o outro. “Viver da arte não é só ir a exposições em galerias com paredes de pladur brancas. A arte, também está na rua e em outros lugares e não lugares. Cada vez mais o convento abre portas para se ver e estranhar. A porta está aberta”, reitera João Pinheiro.

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