Vitória: Posição maioritária em risco?
No passado dia 14 de Fevereiro, foi anunciado, por António Miguel Cardoso, a celebração de um acordo com o Fundo V. Sports, para venda de 46% das ações do Vitória Sport Clube, por 5,5 milhões de euros. Não sei se a data do anúncio foi escolhida simbolicamente por António Miguel Cardoso, que confessadamente é um romântico, como o mesmo já reconheceu numa Assembleia Geral. Para os mais distraídos e menos românticos, o anuncia da venda e da pretendida parceria ocorreu no Dia dos Namorados. António Miguel Cardoso desdobrou-se em elogios a Nassef Sawiris, a perorar as boas relações e empatia gerada com o multimilionário egípcio, o qual, disse-o repetidas vezes, é um dos trezentos homens mais ricos do Mundo.
Naturalmente fiquei na dúvida se, subjacente a este anúncio e discurso, estava uma relação que se pretende séria e genuína, em que se pretende uma partilha estratégica, ou se estamos apenas perante um “casamento” apressado e de conveniência, assente nas necessidades financeiras da Vitória SAD que está disposta a “cair nos braços” de quem seja rico e abastado, esperando que este parceiro lhe pague as contas ou, como foi anunciado, lhe empreste dinheiro, independentemente do “preço” a pagar por esse empréstimo.
E o problema é exatamente esse, o que é que António Miguel Cardoso pretende com esta parceria e venda de parte do capital do Vitória SC à V Sports? Que vantagens tem de facto a Vitória SAD e o Vitória SC?
Um parceiro estratégico, como a V. Sports pode ser de facto, porque tem os meios para investir e o know how necessário? Ou é apenas um parceiro financeiro, que quer apenas ter o Vitória SC como porta de entrada no futebol europeu de jovens jogadores vindos do Senegal, Egipto e América do Sul, que aqui concluem a sua formação e que depois já estarão em condições de ingressar no futebol inglês, cujas regras na concessão de licenças de trabalho são bastante apertadas?
E porque razão António Miguel Cardoso está a precipitar essa venda, que só foi desencadeada após fecho de mercado de inverno, e, mais preocupante, porque precipitadamente negoceia um empréstimo, com uma empresa do grupo do futuro acionista, que impõe como uma das condições que o Vitória Sport Club dê as suas ações como garantia?
António Miguel Cardoso garantiu e ainda garante ter a famigerada almofada económica de 10 milhões, a juros preferenciais, que não importavam garantias ou pelo menos não importavam que o Clube desse as suas ações como garantia a um empréstimo a contrair pela SAD. Se António Miguel Cardoso não mentiu e não mente sobre a existência dessa almofada financeira, porque razão, pretende agora contratualizar uma linha de crédito, com juros semelhantes aos que alega ter para a sua almofada, mas em que vai ter que dar as ações do Clube como garantia, correndo assim o Vitória o risco de perder a maioria do capital social que com tanto esforço foi alcançado? E porque é que o parceiro V Sports, que tem reconhecidamente músculo financeiro, não negoceia com a empresa do seu grupo, que disponibilizará essa linha de crédito, condições de garantia que não ameacem a nossa maioria do capital social??
Vinte milhões para o Fundo V Sports, ou para o senhor Nassef, serão aparentemente “trocos”, logo, mal se compreende que esse fundo não seja capaz de negociar, com uma empresa do mesmo grupo, melhores condições para a linha de crédito a contratualizar. Será porque pretende ter de facto a maioria do capital? É que a V. Sports já no passado, pretendeu essa maioria, pretensão rejeitada por Miguel Pinto Lisboa, como António Miguel Cardoso explicou recentemente em sessão de esclarecimento, que teve lugar no dia 23.02.
Ora, a pretensão da V Sports em ser maioritária é real, legítima e objetiva. E se assim é, porque é que António Miguel Cardoso está disposto a pôr em risco o nosso controle acionista??
Não há nenhuma razão objetiva para esta decisão temerária desta Direção, que se recusa a incluir na ordem de trabalhos da próxima AG a votação de uma autorização dos sócios à Direção, para dar de garantia as ações. Eu instei António Miguel Cardoso a fazê-lo, a solicitar à MAG a inclusão desse ponto e sujeição do mesmo à aprovação dos sócios. Porque devem ser os sócios a decidir se admitem dar de garantia as ações do Clube. A resposta de António Miguel é que não o faria, porque os sócios sabiam que ao aprovarem a venda das ações à V Sports estavam também a aceitar que as ações do Clube fosse dadas de garantia a uma linha de crédito que dizia que nem sabia se a iria utilizar. Ou seja, ou há venda e linha de crédito com as ações como garantia, ou não há venda. Qual o interesse da V. Sports que assim seja? Mas mais importante,
Acresce que nessas sessões de esclarecimento, foi preocupação manifestada pela maioria dos sócios, a exiguidade do período de tempo concedido aos sócios para avaliarem o que lhes era proposto e os contornos do negócio e para poderem refletidamente decidirem se aprovam ou não a venda. Percebemos que era uma exigência do parceiro, mas que também era uma pretensão de António Miguel Cardoso, que disse que a aprovação da venda e concessão da linha de crédito era essencial para preparar a próxima época. Ou seja, não estava em causa uma pressão da atual acionista MAF para receber o remanescente das prestações acordadas pela venda das ações – o Vitória, já pagou, quando a Direção era presidida por Miguel Pinto Lisboa, 2 milhões e 600 mil euros à MAF, e atualmente, neste mandato, já terá pago pelo menos mais 350 mil euros –, mas sim a vontade que a atual Direção tem de se socorrer ao crédito para fazer ajustes ao plantel.
É, pois, assim manifesto, caso os sócios o permitam, que, ao contrário do que afirma António Miguel Cardoso, a SAD do Vitória vai de imediato socorrer-se da linha de crédito, não para apostar na reestruturação desportiva e financeira do Vitória, mas para pagar salários e comprar mais jogadores, face à patente ausência de soluções financeiras deste elenco diretivo, apesar das promessas nesse sentido.