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Verde da treta

José Cunha
Opinião \ sábado, maio 22, 2021
© Direitos reservados
Evitar a construção da Via do Avepark não é uma causa perdida. Há ainda muitas batalhas pela frente que podemos travar, mas não vamos lá com tretas.

Apesar de nas conversas de café sobre ambiente a minha linguagem ser considerada um tanto ou quanto desabrida, nas opiniões escritas para divulgação pública tento ser polido para evitar atritos e antagonismos que em nada servem à causa ambiental.

Mas hoje escrevo (quase) sem filtros. Estou danado com este verde da treta!

O que despoletou este sentimento foi a frustração com a decisão de manter a Via do Avepark no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) com argumentos frágeis e falsos, mas que ainda assim foram tidos como suficientes e válidos pela União Europeia.

O apelo do Secretário-geral da Nações Unidas para “ transformar a recuperação numa oportunidade real de fazer as coisas certas para o futuro” foi ignorado, e a obrigatoriedade de boas práticas ambientais para a atribuição de fundos da União Europeia revelou-se uma treta, fazendo ruir a expectativa que gerou.

A via do Avepark, que em 2015 era justificada da seguinte forma:

“A  tipologia  de  atividades  das  empresas  e  entidades  instaladas  e  a  instalar  no  AvePark configura um   perfil   de   mobilidade   mais   assente   nas   pessoas   do   que   nos   materiais. E,  nessa  medida,  os  tempos  de  deslocação  são  extremamente  importantes.”

Tem agora uma justificação diferente e totalmente contrária:

“O projeto pretende aproximar o Parque de Ciência e Tecnologia das Taipas - AVEPARK de eixos que constituem uma malha essencial para o transporte de pessoas e mercadorias, tendo como foco a melhoria das condições de acessibilidade, circulação e segurança, bem como a diminuição do tempo de percurso à A11 e, através da A11, ao Porto e Terminal Ferroviário de Leixões. Esta medida visa a melhoria da rede viária nos parques empresariais, facilitando o escoamento bens e mercadorias para as vias estruturais.”

Parece que a desfaçatez com que estes argumentos são adulterados e moldados aos interesses do momento não indigna nem classe política nem cidadãos de Guimarães. Somos tratados e enganados como estúpidos e ficamos calados e quietos.

Uma qualquer descarga poluente no rio Ave gera indignação na população e motiva perguntas de grupos parlamentares ao Governo, mas um projeto como o da Via do Avepark, com impactes ambientais e na sustentabilidade do território bem mais graves, é encarado com normalidade, apesar de estar alicerçado em falsos argumentos.

Evitar a construção da Via do Avepark, essa tragédia para a sustentabilidade e resiliência de Guimarães, não é uma causa perdida. Há ainda muitas batalhas pela frente que podemos travar, mas não vamos lá com tretas. Será preciso que quem defende e aspira a um futuro diferente e verdadeiramente sustentável arregace as mangas e tenha a coragem de agir sem medos nem calculismos.

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