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Universidade ou Univercidade?

Filipe Fontes
Opinião \ sexta-feira, julho 14, 2023
© Direitos reservados
Cidades como Braga e Aveiro, Évora e Guimarães, entre outras, são e estão, hoje, diferentes (também) por força da presença da universidade. E muito terão aproveitado e ganho.

(Escrevi há muito para mim… e, hoje, parece-me ainda mais pertinente… )

Há muito que é, tacita e simplificadamente, reconhecida a bondade e a vantagem qualitativa que representa uma cidade albergar uma universidade.

Ora pelo movimento populacional que gera, ora pela interacção com a população e economia local expectável, ora pela animação do espaço público, entre outras, a universidade é, recorrentemente, reclamada e ansiada, desejada e perseguida por uma multiplicidade de cidades tão variável na sua dimensão quanto diversificada na sua extensão e distribuição geográfica.

Acredita-se nesta bondade e, como se repete frequentemente nos dias d´hoje, nesta vantagem competitiva. Acredita-se que a universidade é, e poderá ser, factor distintivo e aditivo, complementar e acréscimo, …

Todavia, numa retrospectiva rápida e despreocupada, emerge a constatação de que, em tantas e tantas situações, a universidade esgota-se para a cidade assim que obtida e alcançada, limitando-se, posteriormente, essa mesma cidade à gestão quotidiana da vida universitária que se projecta para lá dos limites do campus, focalizando-se quase em exclusivo no “durante”, ou seja, no período de vida e funcionamento da universidade, secundarizando e relativizando o “antes” e o “depois”, isto é, as condições de chegada e de “partida” ou permanência daqueles que foram a essência da universidade: as pessoas.

Se é aceitável que a vantagem da universidade seja a de atrair pessoas que vivam e usufruam a cidade, anime a economia, confira prestígio pelo reconhecimento do seu mérito e resultados, do seu potencial formativo de apoio ao tecido empresarial local e regional e do seu estímulo à fixação de pessoas e aumento da demografia, é convicção de que a presença desta mesma universidade na cidade, a relação que ambas estabelecem depende de três momentos: o “antes”, o “durante” e o “depois”. Por outras palavras, daquilo que se oferece como atractivo e polarizador, nomeadamente oferta formativa assertiva, enraizada no tecido empresarial local e regional e valorizada a nível académico e laboral. E habitação, essa função primária e básica da cidade: abrigar com conforto, dignidade e competência; Daquilo que se disponibiliza ao longo do tempo, nomeadamente espaço público qualificado, de usufruto e socialização, de encontro e aprendizagem, de conforto e serviço; Daquilo que resulta no final do tempo, ou seja, fixação de novas pessoas na cidade… que ficam porque aprenderam a gostar da cidade, porque emprego bom e qualificado encontram na economia local e regional.

Será este ciclo completo de ida sem retorno à “casa de partida” que significará vantagem acrescida e distintiva da presença da universidade na cidade.

A multiplicidade e a diversidade de notícias últimas sobre o mundo universitário (e sua relação com a cidade) demonstram que longe deste processo muitas cidades estão… A falta de habitação em número e qualidade capaz de albergar aqueles que chegam é recorrente e, sendo cada vez mais constatação e passado emergido, é evidência que não tem merecido atenção e actuação. Durante muito tempo, foi deixado ao mercado habitacional informal e acomodado a fontes de rendimento complementares e | ou suplementares a resposta a esta realidade, procurando a administração central responder ao seu papel dito social (inerente à carência e insuficiência económica evidente). E acreditou-se (quer na grande metrópole, quer na pequena cidade) que tal seria suficiente e sem relevância diferenciadora na escolha do curso, da universidade, da cidade… para, agora, depois de anos a fio de oportunidade de actuação, se concluir que urge reverter a situação, reclamando-se e exigindo-se, rápida e eficazmente, habitações múltiplas dedicadas ao público estudantil.

No quadrante oposto, descobre-se agora que o poder fixador de pessoas na cidade, associado à universidade, está longe de satisfazer e de reverter a favor da urbe e do tecido empresarial. Sem oportunidade ou oferta de emprego e actividade laboral local e regional, sem condições habitacionais de maior fôlego temporal e de ajustamento económico assertivo e realista, estas cidades registam a perda daqueles que, na verdade, nunca foram da cidade. E, na hora da partida, a cidade “vê” que são muitos, muitos mais os que saem e vão embora do que aqueles que ficam…

No tempo intermédio, vai-se contentando com a vida e o dinamismo que se gera e generaliza, regra geral, no seu centro, não sem raras vezes, revelar problemas de compatibilização da actividade e vida estudantil “para lá das aulas” com o recato e descanso que a actividade residencial pressupõe. E surgem problemas de compatibilização do uso do espaço público e sua relação com as funções urbanas que o marginam. Na verdade, não se trata apenas de “ter” universidade, antes trata-se sim de “saber ter” universidade na cidade e saber entender o que é “aquela cidade” e o que deve ser “aquela universidade” e de que forma uma potencia a outra e a outra contribui para a primeira. E de que forma ambas ganham!

Cidades como Braga e Aveiro, Évora e Guimarães, entre outras, são e estão, hoje, diferentes (também) por força da presença da universidade. E muito terão aproveitado e ganho. E as universidades muito se singularizaram em função das urbes onde se implantaram. Terão sabido aproveitar-se uma à outra, terão percebido o quanto uma tem de ajudar a outra (porque uma dependente da outra)? Terão sabido optimizar-se e rentabilizar-se em todo o seu âmbito e seu esplendor?

Valeria a pena estudar este fenómeno para responder sabiamente. E, quem sabe, consensualizar que, então universidade deveria escrever-se univercidade…

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