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Um achado curioso na Citânia em 1877

Gonçalo Cruz
Opinião \ terça-feira, janeiro 04, 2022
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Sarmento encontrou, assim, o modelo de outros fragmentos anteriormente recolhidos. Depois dele, não se encontrou na Citânia nenhuma outra taça canelada em vidro, nas condições de conservação desta.

Se os objetos de vidro que conhecemos nesta região, em tempos anteriores à Romanização, se limitam, na sua maior parte, a pequenas contas de colar importadas do Mediterrâneo oriental, em época romana, terão sido comuns o fabrico, comercialização e utilização do vidro, propiciado por um circuito bem estabelecido de produção e comércio.

As escavações na Citânia de Briteiros, um dos melhores casos de estudo do referido processo de Romanização, originaram também a recolha de vários exemplares de vidro romano. Entre estes, destaca-se uma taça canelada, translúcida, de cor verde diluído, cujos fragmentos permitiram reconstituir a forma original do objeto, cujo fabrico será datável entre os finais do século I a. C. e o século II d. C. É das peças de vidro, recolhidas na região, mais interessantes que se guardam no Museu Martins Sarmento, em Guimarães. A sua forma corresponderá à "vasilha de mesa mais comum em todos os contextos Alto-Imperiais", como se lê na impressionante dissertação de Mário da Cruz, que considera esta "a forma "internacional" Alto-imperial por excelência" (p. 21).

Taça canelada em vidro, recolhida na Citânia de Briteiros

Taça canelada em vidro, recolhida na Citânia de Briteiros

Como anotou Sarmento no seu diário de campo, a 20 de Junho de 1877: "Foi na terceira casa, contando da entrada. Toda esta fila de casas é quadrada. Mais retirada d'esta fila havia uma casa circular, que foi explorada por dentro e mais tarde por traz. (...) Esta casa deu cacaria immensa: (...) fragmentos de vidro com os quaes se pode restaurar uma taça de vidro (quasi toda), que me diz a forma das azelhas apparecidas noutras partes." Sarmento encontrou, assim, o modelo de outros fragmentos anteriormente recolhidos. Depois dele, não se encontrou na Citânia nenhuma outra taça canelada em vidro, nas condições de conservação desta.

A recolha deste objeto não nos indica apenas que os seus proprietários estavam "na moda", procurando adquirir itens exóticos e visualmente mais apelativos que as escuras taças cerâmicas castrejas. Indica também que estas pessoas já tinham alterado não apenas os seus gostos estéticos, mas também os seus hábitos, incluindo os produtos consumidos e a forma como eram apresentados aos comensais. Desde então, não mais abandonámos o vidro à mesa, cujo uso foi entretanto "democratizado".

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