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Trazer à luz a arte

Gonçalo Cruz
Opinião \ quarta-feira, junho 19, 2024
© Direitos reservados
A Pedra Formosa concentra praticamente toda a iconografia presente no edifício, incluindo motivos decorativos geralmente associados a um contexto pré-romano.

A visita temática que iremos realizar no próximo dia 21, na Citânia de Briteiros, é uma pequena excursão noturna de forma a possibilitar uma rara visualização do Balneário Sul. É que olhar para esta Pedra Formosa durante o dia, ou de noite com luz artificial, faz toda a diferença, pois que não há só motivos que se veem melhor, como há outros que apenas se conseguem observar com luz artificial.

A Pedra Formosa do Balneário Sul da Citânia de Briteiros concentra praticamente toda a iconografia presente no edifício, incluindo motivos decorativos geralmente associados a um contexto pré-romano, bem como algumas epígrafes latinas que parecem ter sido sobrepostas à decoração existente. Esta iconografia tem a particularidade de recorrer a uma aparente temática astral, que atribui alguma coerência ao conjunto, como escreveu Mário Cardozo:

"Os trísceles representarão, possivelmente, a marcha ou revolução solar ou da lua; o disco, a própria imagem solar ou lunar." (Revista de Guimarães, 1931, p. 254).

"...até os arcos de circunferência concêntricos (...), poderiam não ter apenas uma simples intenção decorativa (...), pretendendo mesmo representar a abóbada celeste, onde gravitam os astros." (Revista de Guimarães, 1932, p. 136).

Um dos trísceles que decoram a Pedra Formosa do Balneário Sul da Citânia.

Ainda que esta interpretação astronómica da decoração seja apenas uma sugestão, esta é a única razão porque se irá realizar esta visita no dia que marca o solstício estival, ou seja, o dia mais longo do ano. Pretende-se somente evocar a forma como as comunidades da Antiguidade prestavam mais atenção ao céu, aos elementos visíveis que o integram, às luas e à duração dos dias e das noites, aspetos importantes em populações agro-pastoris.

A visita foi apelidada de "Água, Fogo e Terra", designação que já teve em idêntica iniciativa realizada em 2011, por serem estes os elementos naturais que estavam intimamente ligados ao funcionamento dos banhos da Idade do Ferro: a água que abastecia o balneário, o fogo usado na obtenção do vapor e aquecimento da câmara interior; a terra, que envolvia o conjunto, por serem estes balneários parcialmente subterrâneos. Contudo, para termos uma leitura mais completa, deveríamos ter incluído também o elemento ar, fundamental para o funcionamento da fornalha.

Estes e outros aspeto serão debatidos no dia 21 de Junho, pelas 21h30m, na Citânia de Briteiros.

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