Sou do tamanho do que vejo
Lanço mão da sabedoria de Alberto Caeiro, em “O guardador de rebanhos”, para refletir sobre o Dia Internacional dos Museus, assinalado há dias. Em particular, para refletir sobre a dicotomia crianças-museus. Sim, eu sou desses seres estranhos que leva os filhos, neste caso, o filho (no singular), a espaços museológicos.
Não só em contexto de viagem, mas também quando existe uma atividade interessante em algum dos museus que já conhecemos. Porque estes estão cada vez mais divertidos, porque estimulam os descobridores que as crianças são, naturalmente, através de ambientes inovadores e interativos.
Quatro anos depois, o meu pequeno explorador ainda fala com entusiasmo da Casa da Música de Viena, dos degraus que eram teclas de piano, do jogo de dados que resultava na composição de uma valsa, dos hologramas de grandes compositores e, sobretudo, de como pegou na batuta e conduziu a Orquestra Filarmónica local.
Os museus dedicados aos mais novos multiplicaram-se exponencialmente, desde que foi inaugurado o primeiro museu infantil do mundo, em Brooklyn, nos idos de 1899: são já mais de 380, só nos Estados Unidos. Mas isso não quer dizer que os outros mais tradicionais não consigam pôr o seu conteúdo a dialogar com as crianças.
Nem todos conseguirão desenvolver um conceito de arte-educação como o Schirn Kunsthalle, em Frankfurt, onde os pequenos podem fazer as suas experiências com a arte. Ali, tocar, montar ou desmontar é tão permitido quanto olhar, pensar e ouvir. Alguns têm atividades que podem ser tão simples como um mapa do tesouro, para os miúdos descobrirem as “feras” da Torre de Londres, ou uma visita à luz da lanterna no Paço dos Duques de Bragança.
Um estudo realizado sobre exposições para o público infantil, em três dos maiores museus de Londres, concluiu que os pequenos apreciaram o ambiente divertido e os pais o cuidado pedagógico do acervo. Mais surpreendente - 61% das crianças entrevistadas afirmou preferir visitar museus com a família, em vez da escola.
Mas e os museus de arte, onde é proibidíssimo mexer? Sim, também levo o meu filho a esses, desde pequenino, com conta e medida, porque não quero que cresça a pensar que são lugares chatos e bafientos. E não, não apenas “porque tive sorte”, porque “é bem comportado” e “se interessa por essas coisas”.
Estivemos pouco mais de uma hora no Museu do Prado – pessoalmente, até dormiria no meio dos mestres, se mo permitissem – para conhecer Velásquez e Goya. Claro, também foi ao estádio Santiago Bernabéu e fez indoor skydiving, mas os roteiros devem considerar os gostos de todos os membros da família. Quando esteve em Milão, conheceu o Lago Como, mas também A Última Ceia. Em Bruxelas foi apresentado ao nonsense de Magritte.
Em resumo, as crianças podem aprender a desfrutar de um museu, em casa, na cidade vizinha ou do outro lado do mundo. Mas só podem gostar do que conhecem, daquilo para o qual se suscita curiosidade.
Porque eu sou do tamanho do que vejo | E não do tamanho da minha altura...