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Alabardas de cobre existentes no Museu de Martins Sarmento

Gonçalo Cruz
Opinião \ terça-feira, dezembro 06, 2022
© Direitos reservados
"Desde cedo que as armas constituíram símbolo de poder, mesmo quando não eram utilizadas"

Chamam a atenção a todos os que visitam o Museu Martins Sarmento, duas curiosas peças metálicas, idênticas, dispostas por entre vários materiais pré-históricos. Se, quando pensamos nos tempos mais recuados das idades dos metais, rapidamente nos vêm à memória característicos machados metálicos, que os séculos fizeram esverdear, mais dificilmente associamos duas alabardas tão perfeitinhas. Muitos visitantes não hesitam em comentar: "isto já é mais recente". Mas, de facto, não é.

Estes dois exemplares de alabarda em cobre arsenical, foram oferecidos a Francisco Martins Sarmento pelo professor do Liceu de Bragança, José Henriques Pinheiro, sendo provenientes de um local não especificado algures no território de Freguesia de Carrapatas, Concelho de Macedo de Cavaleiros. As duas alabardas estão na origem do nome da tipologia que as definiu no âmbito da investigação arqueológica: o subtipo Carrapatas, das chamadas "alabardas atlânticas", produzidas na primeira Idade do Bronze, algures entre 2200 e 1750 antes de Cristo. A produção destes objetos, embora cronologicamente integrada no que chamamos Idade do Bronze, terá ocorrido num momento anterior à introdução da metalurgia deste metal no Ocidente da Península Ibérica. Caracterizam-se por um formato sensivelmente triangular da folha e por uma nervura central bem evidenciada, com encabamento formado por três orifícios para rebites, que uniriam a lâmina à haste da alabarda.

 

Sendo peças vistosas, com caráter excecional e aparentemente fabricadas em contexto doméstico, em pequena escala, crê-se que estas peças não teriam uma utilização prática, sendo antes consideradas objetos de prestígio. De facto, elas não evidenciam utilização. Embora se desconheça o contexto concreto em que estes dois exemplares foram recolhidos, nos casos em que o mesmo foi registado, é habitual surgirem em enterramentos ou em depósitos de materiais metálicos, cuja interpretação varia entre a ocultação de bens preciosos e a deposição ritual. Algumas destas alabardas fazem parte da iconografia guerreira característica desta época, como é o caso de uma estela gravada encontrada em Longroiva, Mêda, em que uma figura humana ostenta uma alabarda deste tipo.

Portanto, desde cedo que as armas constituíram símbolo de poder, mesmo quando não eram utilizadas. Estas duas singelas alabardas de cobre testemunham, hoje, um universo cultural bem distinto do nosso, há quase quatro mil anos. Sobre ele nos deixou o falecido eminente investigador João Carlos de Senna-Martinez uma interessante reflexão, que aqui partilhamos.

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