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Sim, outra vez a Turitermas

Sara Martins Silva
Opinião \ quarta-feira, julho 27, 2022
© Direitos reservados
A compra de parte do património da Turitermas pelo município de Guimarães é só mais um episódio nesta novela de mau gosto, passível de muitas críticas do foro ético, de gestão e talvez até legal.

Já muitas linhas escrevi sobre a gestão da Turitermas e continuarei insistentemente a exercer o meu direito e dever de cidadania sobre aquele que, para mim, é um execrável exemplo da autocracia política com que o Partido Socialista (PS) governa Guimarães, pelo que aqui vai, outra vez.

Na gestão da cooperativa estiveram sempre, e apenas, pessoas ligadas ao PS. Depois de Remísio de Castro, que acumulava a gestão da Turitermas com a de presidente da Junta de Freguesia (JF), a estratégia do município foi a de fazer da Turitermas o palco político para os candidatos derrotados do PS à junta das Taipas. Não importava que não percebessem nada de termalismo ou de gestão de empresas, importava sim que fossem do Partido Socialista. Os cargos, remunerados e não remunerados, eram (são) assim distribuídos pelos boys do partido que, a coberto da cooperativa faziam campanha política e oposição à JF.

O objeto da Taipas Turitermas não era, pois, a exploração de equipamentos termais e turísticos, com a finalidade de promover a região, mas a promoção do Partido Socialista numa freguesia onde governava o PSD. Basta procurar por notícias sobre a Turitermas na década passada e ver a enormidade dos projetos que foram anunciados. Bungalows no parque de campismo, cinco piscinas de verão, uma piscina aquecida, ginásio de fitness. Até sede para os escuteiros a Turitermas prometeu...

Toda esta excentricidade que servia apenas a promoção política teve custos. Só em projetos, que nunca verão a luz do dia, foram gastos centenas de milhares de euros. O resultado da instrumentalização daquela que é uma instituição histórica é um passivo de cinco milhões de euros. Dívida que irá ser paga com o dinheiro dos nossos impostos e que poderia servir para baixar o IMI numa altura em que as famílias estão assustadas com a subida das taxas de juro, por exemplo.

Mas o mau exemplo da Turitermas não se esgota na gestão instrumentalizada e ao serviço dos interesses partidários. A gestão da Turitermas, por parte da Câmara Municipal de Guimarães (CMG), é também um exemplo dos malabarismos que a política se permite para contornar a lei e as decisões do poder judicial, mostrando a ineficácia do processo de fiscalização da gestão política.

Recordo que em 2017 o Tribunal de Contas chumbou a intenção da CMG de injetar um milhão e 600 mil euros na cooperativa, sob a forma de aumento de capital, o que não impediu a câmara de arranjar um esquema para transferir 350 a 450 mil euros/ano para a cooperativa.

Contornar a decisão do Tribunal de Contas é já de si grave, uma vez que descredibiliza todo o sistema. Fazê-lo ao abrigo do argumento de que a transferência de dinheiro é para cobrir o suposto papel social que a Turitermas desenvolve é asqueroso, já que sustenta que o dinheiro é destinado a oferecer um serviço a quem mais precisa quando, na verdade, é para tapar o buraco da má gestão.

De 2018 a 2022, a CMG transferiu para a Turitermas cerca de dois milhões de euros, ao abrigo dos contratos-programa, um valor já acima do inicialmente previsto e chumbado pelo Tribunal de Contas, e que mesmo assim não foi suficiente para equilibrar as contas da cooperativa. Como não serão os dois milhões que a Câmara quer injetar com a compra do polidesportivo e do parque de campismo, uma vez que a dívida já ultrapassa os cinco milhões de euros.

A decisão agora tomada pela CMG relativa à compra de parte do património da Turitermas pelo município de Guimarães é só mais um episódio nesta novela de mau gosto. A gestão da cooperativa é passível de muitas críticas do foro ético, de gestão e talvez até legal. Com esta decisão, acrescentamos também a reprovação social e cultural já que preconiza um ataque à identidade de uma comunidade muito arreigada da sua história, dos seus feitos, do seu património.

Pode ser difícil, para quem não é taipense, perceber a diferença entre o património que foi construído pelos taipenses ser de uma cooperativa que é detida em 94% pela CMG ou ser da CMG, mas para os taipenses, a diferença é muita. O simbolismo associado é o de que as Taipas está a vender o seu património histórico a Guimarães. Esta decisão é um ataque à identidade taipense, socialmente é uma decisão que fragmenta, uma vez que assalta o património físico e simbólico de um povo.

Não é só uma instituição histórica que a CMG está a destruir com a sua má gestão, é também a identidade de uma comunidade. Talvez fosse essa a intenção desde sempre.

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