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September blues

Ruthia Portelinha
Opinião \ sábado, setembro 18, 2021
© Direitos reservados
As férias não são algo de trivial, mas uma necessidade para a saúde, física e mental. Quem se gaba de não ter férias há oito anos consecutivos não estará próximo de um burnout?

O despertador toca, num sobressalto, às 6h20, e o cérebro leva um momento a reagir. Por que raio toca, se estamos de férias? O hiato de confusão é curto. Não tarda que a realidade nos caia em cima, de forma nada meiga. As férias acabaram, por entre os estertores do verão, de morte igualmente anunciada.

O ritmo relaxado é substituído pela rotina exigente, os longos almoços no terraço dão lugar a uma refeição apressada, os trilhos de montanha a filas de trânsito. O ócio transforma-se em reuniões, há uma longa lista de emails por responder.

Este fim já se anunciara de forma subtil, durante o passeio no parque, quando as folhas das árvores se soltaram na brisa da tarde. Tentámos não reparar que a luminosidade se tornou menos intensa, ainda que as temperaturas continuem simpáticas. É o outono que se anuncia, lembrando que tudo tem um fim.

A maioria das pessoas não fica muito animada com o término do Verão e das férias. Um estudo diz que quatro em cada 10 pessoas demonstram irritabilidade, cansaço, alterações no sono e apetite no regresso ao trabalho. É um tipo de monday blues prolongado, sobretudo se tivemos umas férias idílicas.

Mesmo quem gosta do que faz pode experimentar uma sensação de perda, uma espécie de luto pela liberdade perdida. Há autores que falam mesmo em síndrome pós-férias, quando o retorno à rotina/aulas/trabalho se agiganta, hercúleo. 

Abra-se aqui um parêntesis para realçar a importância dessa pausa tão merecida. As férias não são algo de trivial, mas uma necessidade para a saúde, física e mental. Quem se gaba de não ter férias há oito anos consecutivos não estará próximo de um burnout? Fecha-se parêntesis.

Para os viajantes, como eu, cada viagem termina com o regresso - ao contrário dos nómadas, que não sentem essa necessidade. É maravilhoso explorar novas culturas, mas também é ótimo voltar a casa. Partidas e regressos são tão naturais como a sucessão de estações. Isso não quer dizer que não nos escape um suspiro quando nos lembramos daquele cenário perfeito, vivido com um cocktail nas mãos e partilhado com amigos, família ou mesmo sozinhos.

As dicas para facilitar o regresso ao trabalho abundam por aí, basta fazer uma rápida pesquisa num qualquer motor de busca. Cá em casa, existe um remédio santo para essa nostalgia momentânea. Chama-se “planear nova viagem”.

Aliás, o outono é perfeito para visitar certos destinos, com os seus dourados e frutos carnudos: há vindimas no Douro, o programa de animação das aldeias históricas prolonga-se até novembro, Munique recebe o Oktoberfest e o México festeja o Dia dos Mortos, as cores outonais ganham uma dimensão extraordinária no Parque Nacional de Banff, no Canadá. Para citar apenas alguns exemplos.

É muito comum marcarmos uma escapadinha ou fim de semana prolongado, logo após recebermos o calendário letivo. Se esse analgésico não for suficiente, começamos já a planear a próxima viagem mais longa, para o ano seguinte. Os dias diminuem, mas os sonhos não.

 

Ruthia Portelinha | Blog O Berço do Mundo

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