"Sempre o tempo..."
Tempo lento e arrastado, Tempo tergiversado e adiado, Tempo feito soma de tempos que tanto caracteriza tantos e tantos projectos , decisões e infraestruturas em Portugal.
Focados de modo especial no “novo aeroporto de Lisboa”, que antes de existir já terá envelhecido de tanto tempo decorrido, somos surpreendidos pelo efeito devastador da chuva copiosamente vertida do céu e que se generalizou no chão que calcorreamos, com especial destaque para Lisboa (outra vez e doutra forma, visibilizando que o centralismo e a centralização, quando em excesso e egoísta, nada de bom traz…) e pela ausência de resposta ou impreparação das nossas urbes para combater, mitigar e superar tal fenómeno, descobrindo que, afinal, há muito que os problemas estão identificados, são conhecidos e recorrentes, foram objecto de estudo e projecto, faltando apenas a decisão e a concretização, numa repetição de uma realidade por demais presente entre nós: adiamento, desvio, lentidão.
Dir-se-á que muitos terão dúvidas sobre a bondade e a justeza das soluções apontadas. Dirão todos que nada justifica nada fazer, obrigando tantos e tanta coisa, verdadeiramente, a boiar sobre o espaço público.
Mas, em simultâneo, somos também surpreendidos com o tempo da justiça e o efeito de dissipação que o “Tempo” revela sobre os acontecimentos e seus efeitos.
Conhecemos os resultados de tantos processos de investigação sobre a primeira fase do processo de vacinação contra a covid, onde alguns foram inoculados indevidamente por antecipação, sobreposição, interesse ou acaso. E de toda a polémica que resultou, de toda a indignação e revolta, promessa de actuação forte e exemplar por quem falhou do ponto de vista ético e comportamental, esforço de bem investigar e actuar em conformidade, resulta, hoje, que das mais de duas centenas de situações identificadas, apenas uma foi concluída com culpabilização. E tal acontece sem reacção ou penitência comunitária, ora perante tão parcos resultados em função da dimensão da indignação, ora reconhecendo o excesso dessa indignação perante tão poucos “casos”… Afinal, já passou algum tempo e tudo parece que foi há muito tempo, há tanto tempo que, porventura, já resta pouca memória, muito pouca memória.
Também tivemos a discussão do “Tempo certo” para os acontecimentos e se a mudança também é benéfica para o “Tempo”.
Habituados a, de quatro em quatro anos, o nosso verão ser invadido por futebol partilhado à escala mundial, habituados a usufruir desse futebol com calor, sol e praia, fomos presentados com esse mesmo acontecimento em pleno inverno, sentindo-se estranheza e surpresa por tal, numa interrogação de quanto valerá o “Tempo do dinheiro”.
E tivemos, temos e, provavelmente, ainda teremos, a infindável “reflexão e discussão”, leitura e análise, e tanto mais, do “tempo” de vida de um jogador de futebol, do seu tempo de crescimento, do seu tempo de reacção, do seu tempo de egoísmo, do seu tempo de permanência, do seu tempo de génio e do ocaso do seu tempo. Tivemos, temos, provavelmente, ainda teremos uma presença linear e contínua do “tempo” enquanto factor determinante e central para a análise e tomada de posição sobre “se ainda é ou não é”, “se ainda pode ser ou já foi”, “se nunca mais será ou ainda continuará a ser”, … Enfim, tempo associado à idade e a palavras tão intrincadas no seu valor, significado e reacção que se vão perdendo no afã de tudo comentar e criticar, transformando aquilo que mais não é do que a espuma destes dias de mundial em dias de espuma de um pais que deveria estar concentrado no seu tempo para responder ao seu tempo de forma atempada…
E porque tudo é uma questão de tempo, já se faz tarde e, entretanto “meteu-se o Natal”… começo a não ter tempo!