São todos corruptos e isto esta cada vez pior.
Não é verdade o que escrevi no título deste artigo. Trata-se apenas do credo que em Portugal (e não só) os extremos (e até alguns sectores do “centrão”) foram professando para efeitos de combate político ao longo das últimas décadas.
Os saudosistas do Estado Novo que quiserem passar os olhos pela obra “Os Políticos e o poder económico” de Raul Rego poderão ver que nessa altura, num curto espaço de tempo, largas dezenas de governantes transitaram das suas funções para cargos importantes em empresas públicas e privadas. Se a estes juntarmos chefes de gabinete, assessores e outra gente do aparelho devemos estar a falar de centenas ou milhares de pessoas (e de incontáveis “tachos” e “cunhas”). Hoje, havendo ou não motivos para isso, chamam a esta dança de cadeiras “corrupção”. Contudo, na maior parte dos casos, estamos perante questões éticas. Foi assim no passado e infelizmente ainda acontece nos dias de hoje. No entanto, com a democracia foi-nos dada a possibilidade de denunciar, expor, discutir e escrutinar este tipo de casos, o que anteriormente não sucedia.
E não, não são todos corruptos.
O que a democracia trouxe de mais importante foram melhorias constantes e contínuas nos mais variados aspectos da vida das pessoas. E não, isto não está cada vez pior.
Nunca como nas últimas décadas houve um tão grande acesso da população à saúde, à educação, a uma habitação condigna, a uma melhor alimentação, a direitos laborais, a férias, à justiça e à liberdade de ter uma opinião sobre todos estes assuntos. Nunca a igualdade de género e os direitos das minorias conheceram tantos avanços. Nunca tantos tiveram voz.
Infelizmente, fomos sendo convencidos que tudo vai de mal a pior, mesmo quando os números demonstram o contrário (perceções). O “centrão” foi fraco. Não se soube impor. Permitiu que uns se apropriassem das suas conquistas e ao mesmo tempo deixou que outros afirmassem que estas nunca existiram ou não eram importantes.
É evidente que não está tudo bem e que há muitos problemas. E por isso importa ouvir, debater e procurar responder aos anseios das pessoas. É para isso que serve a democracia.
A campanha para as eleições que se avizinham foi feita da forma costumeira: uns debates, umas arruadas para a imprensa (já ninguém sai de casa por causa disso) e uns almoços/comícios. Ninguém está muito preocupado com o sistema eleitoral e com o facto de uma boa parte da população não se sentir representada. E muito menos com o facto da maioria dos cidadãos ainda votar “com a carteira”.
Se me fosse permitido dar um conselho a um jovem que vota pela primeira vez dir-lhe-ia o seguinte: não votes no que for melhor para ti, vota no que for melhor para os teus avós. Poderá ser um lirismo da minha parte, mas acredito só assim será possível criar uma sociedade melhor.