Roma não paga a traidores, os socialistas de Santa Clara também não
Há muito que afirmo que Guimarães não vive uma democracia. Os 32 anos de governação socialista permitiram a instalação de um sistema de controlo que está nos antípodas do conceito de democracia.
Desde logo porque o município é um dos maiores empregadores e investidores do concelho. Esta estratégia de um "estado" forte, alimenta o poder socialista que governa a coisa pública como se do seu condado particular se tratasse, oferecendo emprego público a quem aceder a abanar com a bandeira do partido, seduzindo candidatos autárquicos com contratos de compras públicas (de golas antifogo a pequenas empreitadas, há de tudo) oferecendo subsídios às associações e IPSS que aceitem apoiar o partido.
A tirania socialista, no nosso concelho, é paga com o dinheiro dos nossos impostos, cada vez mais altos, num esquema já bem enraizado e com demasiados dependentes para a colocar em causa. A quebra terá sempre que vir de dentro.
Com a exclusão do vereador Ricardo Costa das listas para a Câmara Municipal, assistimos ao regicídio daquele que poderia ser o “príncipe” herdeiro do poder político em Guimarães. Os principais intervenientes remeteram-se a um silêncio ensurdecedor, onde cabem todas as teorias. As verdadeiras razões só os próprios as saberão e podem nunca vir a público, como nunca foram públicas as razões da saída do cabeça de lista do PS às Taipas em 2013, apenas um mês após as eleições.
A perceção social, alimentada pelos apoiantes mais próximos do vereador, é de que a purga de Ricardo Costa é consequência da sua candidatura ao órgão distrital socialista, contra o candidato perpétuo Joaquim Barreto, apoiado por Domingos Bragança, Luís Soares e José Sócrates (sim, José Sócrates...).
Sou insuspeita na "defesa" do vereador Ricardo Costa. Não comungo com a sua forma de fazer política, não aprecio a jactância, o estilo megalómano, do qual o polidesportivo das Taipas e o prejuízo mensal que acarreta é exemplo, e já escrevi muitas vezes sobre a má gestão da Turitermas, ao ponto de ter sido abordada, com intimidações, pela advogada do vereador por delito de opinião. Mas, e sendo justa com Ricardo Costa, reconheço-lhe mais virtudes que em muitos dos atuais atores políticos da família socialista. Conheceu desde muito novo o valor do trabalho, e foi construindo o seu percurso profissional a pulso. Ao contrário de outros, não saiu da Universidade para a gestão de uma empresa municipal, ou para assessor de ministro, apenas com um currículo de jotinha.
Sem saber, ou sem querer, Ricardo Costa poderá muito bem ter feito a sua maior (e melhor) obra. Ao provar que os protagonistas do seu partido não aceitam atos democráticos, banindo-o por se candidatar a uma “eleição” que chamam de livre, Ricardo Costa põe a nu a podridão de um sistema que se diz democrático mas que está sequestrado e manipulado por quem lá está há demasiado tempo e dele depende. Se são assim com própria família política, imaginem do que são capazes contra os adversários de outros partidos! É esta a moral que governa Guimarães. Mas será esta a moral em que os vimaranenses se reveem?
Reza a história que, incapaz de vencer o exército de Viriato e conquistar a Lusitânia, Roma subornou 3 homens da confiança do líder lusitano, para o assassinarem à falsa fé. O maior império do mundo, arauto da civilização, ganhou com recurso ao jogo sujo e, para minorar a sua vergonha, matou os traidores com a mensagem: Roma não paga a traidores. Qualquer semelhança com a atualidade não será coincidência, 23 séculos depois, o ser humano continua a ceder à corrupção e ganância desmedidas. Resta-nos a certeza de que Roma também cai.
Com as próximas eleições termino o caminho que iniciei, em 2011, na política local. Durante 10 anos dediquei o meu tempo livre a servir a minha comunidade, porque acredito que todos temos o direito, e o dever, de participar na gestão da coisa pública. Saio para que outros entrem e levo pessoas que guardarei para sempre.
Obrigada.