Vender 46%
A assembleia do Vitória vai na próxima sexta-feira votar a autorização à direção para alienar cerca de 46% do capital da Vitória SAD a um grupo financeiro internacional que é proprietário do clube inglês Aston Villa.
Não tenho registado especial preocupação nos sócios por esta opção. Nem haveria razão para ela. Haverá certamente na assembleia intervenções emocionadas de várias oposições vitorianas, mas será apenas o cumprimento do papel de oposição, que alguns entendem dever ser assim.
Vejamos: quando se constituiu a primeira SAD, o Vitória vendeu mais de 50% do seu capital por menos de um milhão de euros. Votei contra e expressei em longa intervenção a minha oposição. Porque só tinha lógica a evolução de clube para SAD com uma maioria de capital exterior, se este representasse um investimento financeiro significativo. Menos de um milhão não justificava uma mudança tão estrutural.
Mais tarde, o capital foi aumentado, mas o detentor da maioria do capital teve sempre um investimento entre 2 e 3 milhões, pouca coisa. Recorde-se que nesse período a Vitória SAD negociou Tapsoba com uma entrada líquida na SAD de 13 milhões (o valor da venda, incluindo indemnizações e mediações foi muito superior).
Quando Miguel Pinto Lisboa anunciou na sua primeira campanha de 2020 que iria adquirir a maioria do capital da SAD, ganhou as eleições. Era esse o grande desejo dos sócios. Todos queriam o Vitória a mandar na SAD. Porém, sempre foi aceite, pelo menos por uma grande maioria, que se podia alienar até 49%. Diziam, porém, que era impossível. Não haveria interessados.
Pinto Lisboa cumpriu, garantiu a maioria do capital, mas não pagou. Essa dívida tornou-se grave e tinha de ser resolvida.
Se a operação de venda, agora em curso e dependente da autorização da assembleia geral, tiver como primeira prioridade pagar essa dívida e o Vitória passar a ser, sem controvérsia jurídica, o sócio maioritário da SAD, acredito que terá o apoio massivo de todos que querem um Vitória maior.
Há aspetos da venda mal esclarecidos e que poderão toldar uma opção correta e de boa gestão. Não se percebe como é que o novo investidor vai investir dois milhões em instalações desportivas do clube e não da SAD. Que direitos lhe vão ser transmitidos? É apenas um benemérito que faz obras em propriedades de outros e as oferece?
Reconhecemos que 46% da Vitória SAD vale bem mais que 5,5 milhões. Mas se 51% foi vendido por 800 000, temos de acreditar que 46% por 5,5 milhões foi o mais alto que se conseguiu arranjar. A operação deve ser aprovada.
O Vitória ficará maioritário na SAD, provou-se que o clube tem capacidade de atrair investidores sem ter de perder a maioria, a experiência do novo investidor na gestão do futebol será certamente fator de valorização da SAD para os dois lados: para o Vitória e para quem vem para cá porque acredita que vai duplicar valor. Tudo ajudará a que o Vitória seja, no futuro, maior.