Que futuro?
O tempo de férias é tempo de pousio. E de confronto entre um passado que gerou cansaço e um futuro que alimenta expectativas. É uma pausa ansiada de energia positiva e geração de uma dinâmica renovada e reinventada em nome de uma vida melhor, afinal (e de forma simplificada), o que todos desejam!
Porque assim é, o pós-férias é sinónimo de retoma, redescoberta e renovação, redefinição e repetição, regeneração num acto, tantas vezes, desejado de uma mudança que se julga possível por simples passo de magia, de uma inevitabilidade realista de adaptação a um (novo ou igual) conjunto de hábitos e rotinas.
Seja como for, regressamos de férias sempre na expectativa de que algo mudou e mudará…
Depois de tanto se ter falado, constatado, reflectido, anunciado, denunciado, entre outros, acredito que o tema da habitação foi uma dessas realidades em que a expectativa da (boa) mudança (ou de caminho feito para tal) foi real e sentida. Afinal, tão premente, prioritária e necessária se revela actuar sobre este tema que justificou remeter para promulgação o pacote legislativo em plena véspera de férias, que enquadrou e motivou a análise por parte do mais alto representante da nação entre banhos e comentários inconsequentes, que tudo convocou para, depois, comentar, opinar, discorrer e divagar sobre as decisões tomadas.
Todavia, e depois de tanto, o que descobrimos?
Antes… rendas (elevadas). Falta (habitação). Custo de vida (insuportável). Inflação (excessiva). Sobrelotação (habitacional). Desconforto (térmico). Precariedade. Abuso (posição). Investimento (estrangeiro), alojamento (local). Estudantes (quartos). Bolsas de estudo (parcas). Especulação. Casas (devolutas). Construção (desviante). Taxas (juros). Empréstimos. Pessoas e abrigo.
Depois… promessa (actuação). Mudança (prometida). Assertividade (legislativa). Abrangência (acção). Dinheiro (PRR). Inovação (medidas). Intenções. Anúncios. Concursos. Projectos. Obras. Disponibilização. (eventual) congelamento (rendas). Arrendamento (coercivo). Habitação (acessível). Direito (à habitação). Residências (universitárias). Simplificação (licenciamento). Apoios. Subsídios. (Mais) habitação (social). Controlo (alojamento local). Mitigação (“visto gold”).
Afinal (hoje)… subida (de rendas). Preços (elevados). Habitação acessível (falta). Prestação (aumento). Procura (muita). Oferta (pouca). Reabilitação (alojamento local). Investimento (também estrangeiro). Desconfiança (proprietários). Inacessibilidade (pessoas). Incapacidade (actores e agentes). Inoperância (legislativa). Tudo igual, encarregando o tempo de transformar em tudo pior.
Ou seja, tanto para nada, redescobrindo todos nós que, na verdade, no mesmo sítio estamos, sem caminho feito, sem a meta mais próximas e a partida mais acumulada de exigências, necessidades e pessoas.
Na verdade, as pessoas são a razão de ser da Cidade. E a Cidade suporta-se nas pessoas. Que precisam de abrigo. Por isso, não há Cidade sem pessoas. E sem abrigo para as mesmas.
E, no caso deste naco territorial “à beira-mar plantado chamado Portugal”, sem casas, as pessoas ficam em casa dos pais ou onde podem; sem casas e com ordenados baixos, emigram e tentam vida melhor; sem casas, com ordenados baixos e com formação superior, frustram expectativas. E sem casas, com ordenados baixos, com formação superior e expectativas frustradas, sentem falta de futuro. E sem futuro não há país!
Talvez ontem existisse mais futuro do que há hoje. E talvez hoje corramos o risco de ter mais passado repetido. Seja como for, porque não há futuro (também) sem esperança… haja esperança!