Praias acessíveis, por um verão mais inclusivo
O último editorial do Jornal de Guimarães recordava, com alguma nostalgia, os verões de outrora na Póvoa de Varzim. Agosto é (ainda) mês de mergulhos e gelados, de pores do sol cinematográficos e esplanadas, numa das centenas de praias deste país que costumamos descrever como “à beira-mar plantado”.
Portugal tem tradição como destino de sol e mar, ancorada em cerca de 850 quilómetros de costa atlântica. “Uma extensa costa, onde todas as praias têm areia branca e fina, um verão longo e muitas horas de sol distribuídas pelo ano inteiro fazem de Portugal um destino natural de férias” – recorda o Turismo nacional.
A escolha de uma praia, de mar ou rio, pode ser influenciada por vários fatores. Pessoalmente, privilegio a qualidade garantida pela “Bandeira Azul”. Outro prémio relevante, que em muito contribuiu para a distinção de Portugal como Destino Turístico Acessível 2019 pela Organização Mundial do Turismo, é o de “Praia Acessível”.
Lançado em 2005, na sequência do Ano Europeu das Pessoas com Deficiência, o seu objetivo central é dotar as zonas balneares de condições que permitam o seu uso universal, promovendo o cumprimento da legislação sobre acessibilidade e da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ratificada por Portugal em 2009).
No fundo, trata-se de assegurar que cada vez maior número de praias tenha condições de acessibilidade e de serviços que permitam a utilização, com equidade, dignidade, segurança, conforto e autonomia, por todas as pessoas que as desejem visitar, independentemente da idade, de dificuldades de locomoção ou outras incapacidades, transitórias ou permanentes.
Os critérios de atribuição integram um conjunto de acessos, como passadeiras no areal, sanitários e posto de socorro acessíveis, bem como estacionamento adequado. Mas para ser considerada praia acessível não é obrigatório, apenas recomendado, a existência de cadeira anfíbia. Por exemplo, uma das praias fluviais acessíveis do distrito de Braga tem cadeira anfíbia, mas o serviço de apoio ao banho, a cargo de voluntários, exige marcação por email com 24 horas de antecedência (72 horas aos fins de semana).
Em 2021, Portugal tem 223 praias reconhecidas como acessíveis, o que representa apenas 35% do total de zonas balneares. Mas mobilidade reduzida ou necessidades especiais não deviam significar experiências de lazer limitadas. Uma sociedade moderna e solidária é aquela que integra todos os cidadãos.
Se isto não for motivação suficiente, acrescente-se que, segundo dados do Turismo de Portugal, a Europa representa um mercado de 90 milhões de turistas com necessidades específicas de mobilidade e previsões de 22% da população mundial ter mais de 60 anos em 2050. Talvez se perceba então a oportunidade de negócio para cidades, hotéis, restaurantes, enfim, toda uma panóplia de operadores turísticos.
Praias acessíveis a todos os turistas, amigos e familiares não tornarão os verões ainda mais felizes e coloridos?
Imagem gentilmente cedida pela Sofia Martins (JustGo by Sofia). A blogger que se desloca em cadeira de rodas tem encontrado casos exemplares de acessibilidade, também em praias espanholas.