Palco improvável, mas autêntico
Ao passarem 20 anos sobre a primeira edição do evento Citânia Viva, a Casa do Povo de Briteiros irá promover, na tarde do dia 27 de setembro, uma pequena retrospetiva do evento, numa exposição instalada no salão de chá da Citânia de Briteiros. Será nesse momento que terá lugar uma conversa em que diferentes personalidades da comunidade local irão transmitir o seu testemunho acerca da experiência vivida com este evento, nas suas variadas vertentes. Em todos os casos, seguramente, a participação nesta ação de animação histórica, alterou bastante a perceção do sítio arqueológico, quer porque se aprendeu algo que não se sabia, quer porque a "encarnação" num personagem antigo conduz sempre a uma leitura diferente de um espaço histórico.
E, uma vez mais, a Citânia de Briteiros será palco. Improvável porque destituído das melhores condições para a representação teatral. Autêntico, porém, porque o cenário das ruínas da Citânia remete-nos facilmente para os recuados tempos em que Sófocles terá composto Electra, e em que, ao longo de séculos, esta peça terá sido representada por todos os cantos do Império Romano. A galega Companhia de Teatro Noite Bohemia irá, desta vez, estrear-se no cenário da acrópole da Citânia, hipótese que não foi possível em 2024, e a peça de Sófocles foi a escolhida.
Representação teatral na Citânia de Briteiros | (fotografia de Marco Jacobeu)
A personagem mitológica Electra – que, sem grande surpresa, deu o nome a um complexo psicológico – está no centro de um enredo que é a definição mais típica de tragédia grega. Filha de Agamemnon e de Clitenestra, procurando a vingança da morte do pai às mãos da própria mãe, conspira com o irmão Orestes a morte da progenitora. Autora moral, como a considera Sófocles (outros autores gregos são com ela mais brandos, frisando a sua insegurança). Clitenestra tinha que morrer porque matou o marido. Agamemnon tinha que morrer porque matou uma filha, em sacrifício votivo, por aí fora... Desventuras de uma mitológica família nobre de Micenas, cidade com que Martins Sarmento sonhava ao olhar a acrópole da Citânia.