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Aprender a somar com um comboio em movimento

Francisco Brito
Opinião \ segunda-feira, fevereiro 06, 2023
© Direitos reservados
Há mais de 150 anos que tentamos explicar ao poder central que uma ligação ferroviária de Braga a Guimarães não serve apenas as duas cidades. Até agora não o soubemos fazer. O erro só pode ser nosso.

Em declarações recentes à comunicação social, o Secretário de Estado das Infraestruturas, Frederico Francisco, disse aquilo que todos temíamos: não haverá uma ligação ferroviária entre Braga e Guimarães. A justificação apresentada é que, para que as duas cidades sejam ligadas por comboio, será necessário um túnel de nove quilómetros na Falperra que, “numas estimativas por alto”, custará cerca de 1000 milhões de euros, o que não se justifica dada “a dimensão dos centros urbanos”. Talvez o governante tenha razão no que aos custos diz respeito. E pode ser que a alternativa que apresenta seja viável.

Mas ao cingir-se aos centros urbanos de Braga e de Guimarães para excluir a hipótese de uma futura ligação, Frederico Francisco está a incorrer num erro crasso. Braga e Guimarães são não só cidades de alguma importância e dimensão, mas também centros aglutinadores de localidades mais pequenas cujos habitantes serão potenciais utilizadores de uma nova ferrovia. Se às cidades de Guimarães e de Braga juntarmos as suas principais freguesias, vilas e outras cidades vizinhas passamos de um universo de cerca de 150000 habitantes para mais de 400 000. Se destes 400 000 habitantes, 50 000 vierem a comprar um passe de 40 euros/mês, em 45 anos a facturação da linha será de mais de 1000 milhões de euros. É claro que isto são apenas contas por alto (como as que fez o governante) e, como todos sabemos, a facturação não é lucro e o impacto económico e social ou o retorno de um investimento desta natureza não se mede com estes parâmetros.

Pensando melhor, quem erra não é o Secretário de Estado Frederico Francisco. Somos nós, os minhotos, que durante os últimos 150 anos não fomos capazes de explicar ao poder central que uma ligação entre Braga e Guimarães não serve apenas as duas cidades. A 15 de Junho de 1867, na Câmara dos Senhores Deputados, António Alves Carneiro dizia que não se devia dar aos “nossos caminhos de ferro uma direcçao toda marginal e litoral” explicando que “a tendencia [era] fatal e nociva aos interesses do país”. Depois, para apresentar o seu projecto para o Caminho de Ferro do Minho (que previa uma ligação do Vale do Sousa a Braga por Guimarães), o Deputado apresentava a soma das populações das diferentes localidades que seriam servidas (de forma directa e indirecta) pelo comboio, chegando a números que iam de um mínimo de 155 726 habitantes a um máximo de 346 705.

Volvidos 155 anos da intervenção de Alves Carneiro ainda não conseguimos explicar uma soma semelhante aos nossos governantes. Nem mesmo a Frederico Francisco, doutorado em Física.

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