Três notas soltas sobre posições autoritárias
1 – A polémica que envolve a reescrita dos livros de Roald Dahl tem marcado os últimos dias. Quando para fazer valer um conjunto de valores se sente a necessidade de censurar (expurgar, reescrever ou simplesmente banir um livro) o que está em causa é a vitória de um pensamento autoritário (avesso à diferença, ao debate, à liberdade individual e à liberdade de expressão).
Sobre esta polémica vale a pena ouvir Irene Vallejo que nos diz que podemos fazer valer aquilo em que acreditamos através do diálogo, do espírito crítico e do debate e que nos recorda que um livro é também um testemunho da época em que foi escrito (e que por isso não deve ser alterado).
2 – Soube há dias que dois académicos, Nuno Palma e Pedro Schacht Pereira, usaram dois argumentos muito semelhantes para recusar ou desvalorizar o debate com os seus colegas Fernando Rosas e João Pedro Marques. Palma menorizou o trabalho de Rosas pelo facto de este ser pouco citado nas revistas da especialidade internacionais e Schacht Pereira acusou João Pedro Marques de não publicar há muito tempo em revistas científicas e, portanto, não ser um interlocutor válido.
Estes expedientes usados para evitar um debate sério e o confronto de ideias são preocupantes, especialmente quando ocorrem na Academia ou entre académicos.
3 – Recentemente vi um conjunto assinalável de “liberais” indignado com o facto de Carlos Guimarães Pinto aceitar participar num debate com Francisco Louçã na Faculdade de Direito de Lisboa. Carlos Guimarães Pinto (um bom Deputado que sabe o que é uma democracia-liberal) esteve presente no debate e não parece ter problemas em debater com pessoas que pensam de maneira diferente. As considerações de alguns dos seus pares são completamente anti-liberais, o que me leva a recomendar que apostem mais na leitura de obras de referência e menos no Twitter.