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O valor da Água

José Cunha
Opinião \ segunda-feira, julho 17, 2023
© Direitos reservados
Não sei bem qual o valor que damos à água, mas receio que não será o suficiente para fazer face aos desafios que temos pela frente.

Dizem que a “água é vida”! Desde que me conheço que o ouço dizer. Mas se assim é, e creio que ninguém questiona essa evidência científica, porque será que a tratamos tão mal a ponto de por em causa a sua disponibilidade e qualidade. Afinal, qual o valor que damos à água?

Pois se é evidente que a água é vida, também é inquestionável a sua crescente escassez, como aliás ressalta do alerta da Secretária-Geral Adjunta das Nações Unidas, que a propósito das conclusões de um estudo sobre a Seca concluído em 2021 declarou que “a Seca está prestes a tornar-se a próxima pandemia, e não existe vacina para a curar”.

Esta evidência da escassez da água teve também em Portugal um recente e relevante suporte científico no estudo da Avaliação das Disponibilidades Hídricas Atuais e Futuras coordenado pela Agência Portuguesa do Ambiente.

Na apresentação deste documento, tanto os responsáveis dessa entidade como a tutela política foram unânimes ao considerar o estudo como um marco para a gestão da água em Portugal, falando mesmo num “antes e depois do estudo”. Um outro aspecto que todos eles enfatizaram foi de que, e apesar dos resultados alarmantes do estudo, não se devia entrar em alarmismos nem cataclismos, havendo sim uma necessidade de investir na eficiência, na capacidade de gestão. Nesse sentido, o Ministro do Ambiente de então, afirmou que os planos de eficiência hídrica não se deviam ficar só pelo Algarve e Alentejo mas serem estendidos a todo o país.

Este estudo revela que a água disponível em Portugal teve uma redução de 20% nos últimos 20 anos. Esta redução, combinada com o substancial aumento dos consumos, teve como resultado índices de escassez por bacia hidrográfica que superam de forma assustadora os valores até então conhecidos (Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas de 2018). No caso da sub-bacia do Ave, esse índice passou de 17% para 58%, mais do que triplicando e evoluindo para uma classificação de “Escassez Severa”.

Mas para além dos estudos, também temos evidências da seca e das alterações climáticas na realidade que nos vai sendo reportada pela comunicação social. São ondas de calor nos países do hemisfério norte, com temperaturas recordes em Itália; em Espanha é o caso do Parque Nacional de Doñana, uma zona húmida de extrema importância para a biodiversidade que “secou” devido à sobreexploração do aquífero para abastecer explorações intensivas de frutos vermelhos; no sul de França são as proibições de lavagem de carros, rega de jardins e enchimento de piscinas, politicamente justificadas pela escassez de água e acompanhadas da advertência de que “temos de abandonar a nossa cultura de abundância”.

Precisamos pois da tal capacidade de gestão e eficiência, mas sem esquecer que a água é vida para todo o planeta e não só para a espécie humana.

Não sei bem qual o valor que damos à água, mas receio que não será o suficiente para fazer face aos desafios que temos pela frente.

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