O que nos trazes, 2022?
A passagem do ano é o ritual mais universal que temos. Durante 24h, todos os anos, começando a 31 de Dezembro e acabando a 1 de Janeiro, assistimos aos fogos de artifício que marcam as passagens de ano nos diferentes fusos horários por todo o planeta.
Pensando no tempo como um conceito criado pela humanidade para medir algo que só pode ser experimentado numa dimensão – o presente - este ritual sempre me pareceu algo bizarro. Afinal das 23h55 de 31 de Dezembro às 00h05 de 1 de Janeiro, a única coisa que muda, seguramente, é a quantidade de champagne ingerido. E, ainda assim, todas as passagens de ano, sinto-me que me despeço do ano anterior e me preparo para o que o novo ano me trará.
E eis que, este ano, não me apetece 2022. A entrada em 2021 foi cheia de esperança. A tão esperada vacina, que viria a pôr cobro a esta situação bizarra em que nos encontramos desde Março de 2020, já começava a ser administrada e esperávamos que a entrada em Janeiro marcasse o início do fim. Não marcou, como sabemos.
Não sei como se está aí desse lado, mas por aqui a chamada “fadiga pandémica” está ao rubro. A única forma de lidar com tudo isto é desligar a televisão e escolher muito bem as páginas do jornal a ler. Este permanente bombardeio com números de casos positivos e notícias monotemáticas está a pagar a sua conta. Há uma diferença entre informar as pessoas e afogá-las em informação e parece que os meios de comunicação não sabem fazer bem essa distinção. Mais do que nunca, teria sido muito importante o trabalho de mediação dos media e um esforço na comunicação das entidades responsáveis, para que fosse claro e facilmente compreensível a razão e o porquê de todas as medidas e decisões que foram tomadas.
A semanas de um novo ano, já não há esperança de um retorno à vida antes da pandemia, pelo menos nos próximos meses. As novas variáveis vão continuar a aparecer e a hipótese de novos confinamentos espreita. Não há muito a ansiar com a passagem de ano, o futuro não se adivinha brilhante. Com as ameaças à sustentabilidade da nossa própria espécie, cada ano que passamos em isolamentos, confinamentos e distanciamentos sociais, é mais um ano roubado à nossa vida coletiva.
A única coisa que nos salva é tudo aquilo que nos permite fugir à realidade que vivemos. O cinema, a literatura e a música ainda não nos podem ser roubados por esta pandemia, mesmo que todas as dificuldades que esta trouxe ao panorama cultural. E assim, este ano, ao invés de esperar pelo 31 de Janeiro, estou muito ansiosa pelo dia anterior, dia em que Licorice Pizza estreia em Portugal. As duas horas de imersão no universo de Paul Thomas Anderson serão certamente as duas melhores horas desta quadra festiva, por isso, não as deixem escapar.