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O início

Sara Martins Silva
Opinião \ sábado, abril 24, 2021
© Direitos reservados
A primeira linha é de saudação e de votos de muito sucesso a este novo projeto jornalístico.

Guardiã da democracia, da liberdade, do saber, a imprensa é, por natureza, um palco para opiniões e pontos de vista plurais, uma pluralidade que tanta falta faz a Guimarães.

E é precisamente com a pluralidade e a diversidade que gostaria de iniciar esta colaboração. A pluralidade de opiniões, de culturas e de identidades que existe na nossa sociedade e que não encontra representação na divisão política cada vez mais polarizada.

Vivemos a Era da complexidade, nunca os nossos antepassados enfrentaram desafios tão complexos como os que se nos apresentam, nunca o nosso modo de vida foi tão complicado e globalizado. A comum redução da sociedade e da política a duas margens, direita e esquerda, é simplista, errada e perigosa, na medida em que traz mais problemas do que soluções.
O conceito de esquerda e direita data do século XVIII, teve origem no pós-Revolução Francesa, distinguindo os que apoiavam a monarquia dos que apoiavam a Revolução. Ora, a utilização de um conceito com três séculos para caracterizar a sociedade e a política atual, deveria dar-nos uma pista sobre a sua inadequação.

Nesta divisão polarizada da sociedade, as vozes moderadas perdem poder, os argumentos contrários são vistos como ilegítimos e há uma transposição do plano da opinião para o plano da rivalidade do tipo ou estás comigo ou contra mim, destruindo assim a possibilidade e diálogo cívico e promovendo a desconfiança e a fragmentação.
Importa perguntar quem promove e a quem serve esta divisão da sociedade.

Um partido político não é um clube de futebol, a militância política não pode ser feita com a irracionalidade característica da paixão clubística.
Enquanto cidadãos, devemos ter a capacidade de olhar criticamente o trabalho feito pelos políticos, independentemente do seu partido e/ou ideologia. Enquanto cidadãos temos que perceber que, ao contrário do resultado da bola, as decisões políticas interferem com a vida de todos e, por isso, todos têm direito a ter uma palavra, uma opinião sem serem ofendidos ou vilipendiados por isso.

A intolerância é cada vez maior no nosso espectro político, com as posições a extremarem-se perigosamente, e aqui, a mediocridade dos nossos políticos tem uma enorme responsabilidade. O discurso político é paupérrimo, incita à discórdia e à fragmentação. Dividem para reinar e recusam a legitimidade de visões plurais.

Aquele que vive na crença de que “os meus” é que são bons e os “outros” são todos maus, ou é tolo ou ganha com essa discórdia. É na diversidade que se cresce, e a diversidade tem muitos mais lados que a esquerda e a direita. Não se admire se, nesta coluna, ler posições que não são de direita, ou de esquerda. É que, enquanto portuguesa e vimaranense, gostava mesmo é que deixássemos de andar para os lados e passássemos a subir em qualidade de vida.

Nota: Artigo publicado originalmente na edição 1 do Jornal de Guimarães em Revista, em abril 2021.

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