O imensurável peso da dor
Cada um carrega uma invisível amálgama interior, que tantas vezes somos incapazes de imaginar, ou imaginando, outras tantas de compreender.
Aprender a calçar os sapatos dos outros e correr uma maratona seria talvez a forma mais eficaz de nos devolver a humildade e a empatia. Poucos o conseguem.
Ainda assim, por mais perdidos que estejamos nas nossas lutas, dias há em que nos deveríamos deter e, ainda que por segundos, vestirmos a pele do outro: prédios que se desfazem sobre a cabeça de gente como nós, balas dirigidas ao coração de outros que poderiam ser os nossos, pais que beijam pela última vez o rosto frio dos filhos que se perderam na primeira curva da manhã, diagnósticos físicos ou mentais que são sentenças e vidas que nada mais são do que prisões. Gritos mudos abafados às mãos de criaturas que se dizem filhos de Deus e mulheres amordaçadas às mãos de outros que se julgam o próprio Deus.
As dores não se podem, nem se devem comparar, mas podem-se encarar com honestidade. Falar com elas na noite escura e tentar perceber a carne que dói: se mágoa, se despeito, se vaidade, se frustração ou capricho. E calá-las, pela manhã, se isso for.
Lá fora, continua a existir a brevidade das coisas simples que nos podem salvar: se estivermos vivos e atentos, se houver saúde, se houver uma mão ou um beijo, música, um teto, palavras, boa vontade, alguma justiça e uma réstia de fé… tentemos estender a mão para as alcançar.