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O futuro de uma terra que é “antepassada de si mesmo”

Francisco Brito
Opinião \ segunda-feira, novembro 03, 2025
© Direitos reservados
Só se conseguirmos atrair pessoas de diferentes latitudes, qualificadas e criativas é que poderemos moldar o futuro.

Em “Campos Elísios – Páginas do Minho”, um ensaio de Luiz Forjaz Trigueiros publicado em 1959, Guimarães era descrita assim: “Aos poucos a cidade tem-se renovado e crescido sem exageros nem ímpetos. O progresso de Guimarães faz-se em voz baixa – e esse tom quase confidencial, como lhe compete e à sua dignidade de pessoa fidalga, museu, relicário ou templo, antepassada de si mesmo, não é, afinal, incompatível com o surto florescente duma economia militante em que o tear mecânico substitui o manual. E, entretanto, as ameias do seu castelo olham sem arreganho as chaminés das fábricas. Na verdade, tudo é Guimarães. (…).Tão honrada a sua população fidalga como a plebeia, a rural como a fabril, não se gastam em intrigas ou invejas entre si, pois umas e outras cresceram à sombra dos mesmos castanheiros, eucaliptos e pinheirais, dançaram nas romarias, beberam do mesmo verde, o mesmo sol as cobre e todas elas se sabem necessárias (…).”
O olhar de Forjaz Trigueiros é interessante pois trata-se de alguém que vindo de fora consegue captar alguma da essência da região. Ainda que muito romantizada, a visão do autor retém alguns aspectos que, de uma forma simbólica ou realista, fazem parte da identidade vimaranense: a cidade que se sente “antepassada de si mesmo”, o convívio aparentemente natural entre as seculares ameias do castelo e as modernas chaminés das fábricas e o respeito entre as diferentes classes sociais (afinal, raro foi o industrial que não foi operário e rara era a fortuna sem origens na lavoura, no comércio ou no Brasil).

Contudo, a “voz baixa” que Trigueiros refere era então coisa recente. Guimarães começou a modernizar-se 100 anos antes do ensaio de Trigueiros e não o fez de forma pacata ou discreta. Foi vocal. Começou com uma classe comercial que ainda na primeira metade do século XIX já tinha relevância nacional. A esse primeiro momento seguiram-se os homens que em 1851 se deslocaram à Exposição Universal de Londres e às exposições seguintes. Depois, veio a acção de figuras como Avelino da Silva Guimarães ou Alberto Sampaio que nas décadas de 60 e 80 reivindicaram uma exposição industrial em Guimarães. Entretanto surgiu a Associação Comercial. E depois a Sociedade Martins Sarmento (que viria a promover a Exposição Industrial de 1884 e o ensino dos mais desfavorecidos). E durante todo este período, à medida que do castelo se começavam a ver as primeiras chaminés das fábricas, os vimaranenses deixaram inúmeras reivindicações junto de diversos governos para trazer para o seu concelho escolas, estradas, transportes, etc. 

Guimarães desenvolveu-se quando procurou estar na vanguarda. Hoje, a solução imediata para contrariar a estagnação do concelho é captar empresas ou serviços que empreguem mais e paguem melhor (para que os nossos jovens mais qualificados sintam que aqui há futuro). Mas para além disso é necessário perceber que apostas devemos fazer hoje para moldar o futuro. Vivemos num mundo cada vez mais rápido e complexo. Nas tecnologias de ponta surgem inovações notáveis, mas também ramificações que tornam difícil perceber que modelo irá prevalecer num determinado sector. Numa altura em que começa a ser demonstrado que a evolução cultural e tecnológica foi (e é) fruto da diversidade, parece claro que se aproveitarmos o que de melhor temos se atrairmos para cá pessoas de diferentes latitudes, qualificadas e criativas em diversas áreas é que poderemos moldar o futuro.

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