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Nomes esdrúxulos, lugares comuns

Ruthia Portelinha
Opinião \ sábado, outubro 14, 2023
© Direitos reservados
A lista de terras portuguesas de nomes esdrúxulos, que atiçam à piada fácil, está à distância de um mapa. Portugal abunda em placas toponímicas inusitadas: Orelhudo (Cernache), Pai Torto (Mirandela).

Há uma trend nas redes sociais entre a comunidade brasileira acerca da maturidade necessária para morar num país com localidades como Pau Gordo, pratos que se chamam punheta de bacalhau ou vinhos da marca Periquita.

A lista de terras portuguesas de nomes esdrúxulos, que atiçam à piada fácil, está à distância de um mapa. Portugal abunda em placas toponímicas inusitadas: Orelhudo (Cernache), Pai Torto (Mirandela), Angústias (ilha do Faial), Vale da Rata (Viana do Alentejo), Degolados (será fácil perder a cabeça em Campo Maior?), Chiqueiro (Lousã).

Depois há sítios com especial vocação comercial, como sejam a Venda das Pulgas (Mafra), Venda da Gaita (Pedrogão Grande) ou Venda das Raparigas (Alcobaça). É quase impossível permanecer sério ao passar pela célebre Picha (bis para Pedrogão Grande), por Bexiga (Tomar), pelo Purgatório (Paderne) ou pelo rio Cabrão (Arcos de Valdevez).

Rematemos com Carne Assada (Sintra), Sítio das Solteiras (Tavira, numa das zonas mais bonitas e bem preservadas do Algarve), Catraia do Buraco (Belmonte), Cama Porca (Alhandra) ou a Vila Nova do Coito (Santarém). Esta curta viagem já provou a imaginação lusitana quando se trata de batizar um lugar.

Estes nomes podem não lembrar ao diabo, mas não são uma peculiaridade exclusiva de Portugal. No Brasil também há terras curiosas como Anta Gorda (Rio Grande do Sul), Solidão (Pernambuco), Jardim das Piranhas (Rio Grande do Norte), Ressaquinha (Minas Gerais), Pau Grande (Rio de Janeiro), Ampére (Paraná) ou Feliz Natal (Mato Grosso).

De igual forma, os Estados Unidos da América têm uma longa lista de toponímia bizarra que vai de  Bigfoot no Texas (o abominável homem das neves), Hell (inferno) no Michigan, Beer Bottle Crossing (“garrafa de cerveja a atravessar”, resta saber se é a estrada), Boring (aborrecido) no Oregon, Accident (acidente) em Maryland, Dead horse (cavalo morto) ou Chicken (galinha) ambas no Alaska, Why (porquê) no Arizona ou Whynot (porque não) no Mississipi.

Basta ler estes nomes extravagantes para que um sorriso se nos estampe no rosto. Tal como aconteceu a uma amiga minha, que morou alguns anos nos Países Baixos, incapaz de conter uma gargalhada, quando lhe sugeriram abrir conta no Rabobank… Todo este prólogo para concluir que não me aborrece que os estrangeiros se riam dos nomes engraçados que encontram no nosso país. Aliás, junto-me à brincadeira – dizem os especialistas que é saudável rirmos de nós próprios.

Remotas e algo desertificadas, na maioria dos casos, estas terras terão em comum o orgulho de quem lá mora. Aposto que, tal como uma pandemiazinha não esmoreceu o bairrismo dos habitantes pela pequena aldeia de Covide, no Parque Nacional Peneda Gerês, haverá, certamente, vaidosos moradores em Batman (Turquia), Christmas Pie (Inglaterra), Gogogogo (Madagáscar), Lost (Escócia) ou Ogre (Letónia). Mesmo que a única coisa digna de registo que estes lugares tenham seja o nome.

Ruthia Portelinha, viajante e autora do blog O Berço do Mundo

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