Ninguém nos ouve!
Por vezes temos experiências que nos fazem refletir sobre realidades que nos escapam, as quais não entram nas nossas rotinas e são mesmo um mundo à parte. Ouvimos falar delas somente quando acontecem algumas tragédias e pouco mais.
Em finais de outubro, fui desafiado a dar um testemunho de vida junto a um grupo de reclusos no Estabelecimento Prisional de Guimarães (EPG). Foi a minha primeira visita a um estabelecimento do género e, até ao momento, só o conhecia de passar ao lado.
No momento destinado a uma maior participação das pessoas presentes, uma acabou por dizer: “Já tivemos várias pessoas a passar por cá, mas ninguém nos ouve lá fora”. O destaque desta edição vai mesmo para o EPG, criado em 1989.
Ouvimos Augusto Urjais, diretor interino do EPG, que coordena uma equipa de trinta guardas prisionais, técnicos superiores, três assistentes operacionais, enfermeira a tempo inteiro, bem como psicólogo e psiquiatra em prestação de serviços. Fomentar as competências pessoais, sociais e laborais e tentar criar condições para uma melhor reinserção na sociedade dos reclusos é um dos maiores propósitos desta direção. Por isso, existe uma real tentativa de proporcionar diversas experiências e tempos ocupacionais de diversos âmbitos. O “Café Com”, promovido por Filipe Fontes desde 2016, que tem levado diversas personalidades ao EPG a darem conta do seu testemunho de vida, caso da cantora Elisabete Matos, do cineasta Rodrigo Areias ou do seu primeiro convidado, o ex-presidente da Câmara, entre outros, e o projeto educativo a cargo do Agrupamento de Escolas João de Meira, são dois exemplos de projetos que ajudam os reclusos na sua preparação para uma melhor reinserção social.
A escassez de profissionais, algo comum a nível nacional, que asseguram a segurança da prisão 24 sobre 24 horas é-nos reportada pela chefe, Regina Carmo, que revela uma certa inquietude que acaba por se viver neste tipo de espaços.
Finalmente, damos a voz a um dos sessenta e oito reclusos deste estabelecimento prisional que, como o próprio afirma, espera “nascer de novo”, a partir de maio do próximo ano, quando terminar a pena que o levou a este estabelecimento prisional, espaço que o próprio reconhece como muito diferente de outros, sendo mais apaziguador.
Este é o caminho que o diretor tenta implementar, o criar condições para que as pessoas possam entrar como condenadas, mas que saiam como cidadãos de pleno direito e mais preparadas para os desafios de uma sociedade em constante mutação.
Umas boas leituras!