Medicina Preventiva: um bem essencial
“A medicina preventiva é sempre muito melhor do que a medicina curativa”. Esta é uma velha máxima que se mantém particularmente atual nos tempos correntes. Todos sabemos que a esperança de vida tem progressivamente aumentado devido aos melhores cuidados médicos prestados e à maior eficácia dos medicamentos. Também a evolução dos meios de diagnóstico e das tecnologias têm permitido diagnosticar mais precocemente e assim prolongar a vida aos cidadãos, para já não falar de um aspeto muito importante que é a melhoria da qualidade de vida.
Mas voltemos aos aspetos preventivos. Nos últimos tempos, devido á focalização de todos (médicos, doentes, utentes) na pandemia covid-19, os aspetos preventivos têm estado infelizmente muito secundarizados. A começar logo pela drástica diminuição do número de consultas onde compete seduzir e educar para aspetos da prevenção primária. E quando falamos desta estamos a referir-nos a cuidados comuns importantes na prevenção de varias doenças, nomeadamente oncológicas, em que é consensual que fatores como o tabagismo, o excesso de peso e a ingestão excessiva de álcool são fatores facilitadores, enquanto que o exercício físico regular e uma alimentação saudável de tipo mediterrânico (rica em legumes, fruta, água, peixe, azeite e fibras) se revelam protetores.
Por outro lado foram secundarizados os rastreios, que devem ser atempados, efetuados no momento certo, quando em muitas situações foram inclusivamente e de forma muito controversa, suspensos, em algumas situações por ausência de prescrição médica e em outras por incompreensível temor (ou impossibilidade) de recorrer aos cuidados médicos! Veja-se o que se passa com o drama do cancro digestivo, que inclui cinco dos cancros mais frequentes: intestino, estômago, pâncreas, fígado e esófago.
Em todos eles o diagnóstico precoce pode melhorar significativamente o prognóstico, podendo em alguns deles conseguir-se mais do que isso, isto é, evitar a cancerização. Tal acontece por exemplo no intestino, em que o cancro é precedido por uma lesão benigna silenciosa (pólipo) que se for atempadamente detetado através de uma colonoscopia é facilmente retirado, impedindo-se a evolução para cancro. Resta lembrar que o cancro digestivo representa 30% de todos os cancros, isto é 17 272 no ano de 2018, em Portugal. Só cancro do intestino são mais de 10 000/ano, cerca de trinta por dia. Quer isto dizer que na próxima década irão aparecer cerca de 100 000 novos casos de cancro do colón e reto no nosso país. É pois difícil entender porque estes números assustadores não são evitados. Tal acontece devido a um conjunto de fatores, cujo principal é a ausência de prevenção eficaz e atempada.
Por tudo isto é hora de virar a página! Ao mesmo tempo que a covid-19 diminui (felizmente), as outras doenças continuam a existir e um importante número da população esteve com cuidados diminutos (ou nulos em muitos casos) de vigilância e/ou de prevenção no último ano. Há que olhar para o tempo perdido, e todos juntos (médicos e cidadãos) voltar à normalidade e recuperar esse mesmo tempo, pois todos sabemos que vida há só uma e muitas doenças são absolutamente evitáveis.
Nota: Artigo originalmente publicado na edição #02 do Jornal de Guimarães em Revista, a 14 de maio de 2021