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Março: mês da luta contra o cancro do intestino

Prof. Dr. José Cotter
Opinião \ segunda-feira, março 25, 2024
© Direitos reservados
Já era tempo de sermos um país assertivo nesta matéria, com um verdadeiro rastreio eficaz e organizado.

Assinala-se uma vez mais, em Março, o mês da Luta Contra o Cancro do Intestino. Pela sua importância não podemos deixar de o assinalar e sobre o tema fazer algumas reflexões.

Em Portugal é o segundo cancro mais frequente na mulher (a seguir ao da mama) e no homem também o segundo (a seguir ao da próstata), com mais de sete mil casos/ano. Tem uma elevadíssima taxa de mortalidade (cerca de 50%), apesar dos fortes avanços nos tratamentos existentes (cirurgia, quimioterapia, radioterapia), mas que condicionam sempre negativamente a qualidade de vida dos doentes. Nos últimos anos tem aumentado significativamente o numero de casos em doentes mais jovens, nomeadamente entre os 45-50 anos, o que tem levado muitas Sociedades Cientificas a recomendar que o rastreio se inicie aos 45 anos e não, como anteriormente acontecia, a partir dos 50.

Há uma década, a proporção de casos de cancro colorretal abaixo dos 50 anos era de 5%, sendo atualmente de 10% A prevenção primária é importante, sendo consensualmente reconhecidos como factores de risco o tabagismo, a ingestão excessiva de álcool e a obesidade/excesso de peso, ao mesmo tempo que se revelam importantes como medidas preventivas a dieta mediterrânica (rica em frutas, legumes, verduras, grãos integrais, nozes e sementes, em que o azeite é a principal fonte de gordura e é usado em abundância para cozinhar e temperar alimentos e em que o peixe é consumido regularmente em vez de carnes vermelhas e processadas).

Associadamente a prevenção secundária revela-se fundamental, através do rastreio preferencialmente efectuado por colonoscopia que é o ÚNICO método que verdadeiramente consegue prevenir o aparecimento da doença. Porquê? O que o diferencia dos outros métodos? Porque o cancro do intestino é precedido por uma lesão benigna (pólipo) que vai crescendo progressiva e silenciosamente, aumentando assim o risco de malignização. A colonoscopia é o único método que além da detecção precoce permite num mesmo tempo retirar esses mesmos pólipos e impedir assim a via da cancerização. Os restantes métodos, como a pesquisa de sangue oculto nas fezes, tão divulgada em pseudoprogramas de rastreio, detectam os pólipos em apenas cerca de 30% dos casos, o que quer dizer que quando o exame acusa positivo, em grande parte dos casos já a malignizaçao está instalada com todos os inconvenientes daí decorrentes e prognóstico consequentemente reservado. E mesmo perante uma lesão maligna está longe de ser um método de detecção com elevada acuidade!

Portugal é um país onde as campanhas pretensamente organizadas pelos gabinetes ministeriais e seus acólitos, tentam vender a ideia à população, que praticam um programa nacional de rastreio com pesquisa de sangue oculto nas fezes muito eficaz em que o pobre cidadão, uma vez feito o teste e sendo este negativo, fica falsamente com a certeza de que está saudável. O que não corresponde sempre à verdade, como atrás se explicou. Por isso, infelizmente, nos aparecem com regularidade doentes graves que se surpreendem perante a notícia de terem cancro do intestino, utilizando o argumento de que pouco tempo antes tinham efectuado um teste das fezes que foi negativo.

Já era tempo de sermos um país assertivo nesta matéria, com um verdadeiro rastreio eficaz e organizado, em que um cancro que é facilmente evitável (como atrás ficou demonstrado) origina inúmeras mortes, tremenda perda de qualidade de vida e enormes dispêndios financeiros em tratamentos cirúrgicos, de quimioterapia e radioterapia, ironicamente suportados na sua maioria por um Estado gastador, protagonizado por políticos incompetentes, que não olham verdadeiramente para os interesses das populações ou para os resultados de longo prazo, mas sim e apenas para aquilo que no imediato possa render mais alguns votos.

 

Prof. Dr. José Cotter

(Director do Serviço de Gastrenterologia da ULSAA/Hospital da Senhora da Oliveira – Guimarães)

 

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